sexta-feira, 20 de maio de 2011

Capitulo VI

CAPITULO VI

Ao chegar ao hotel, a Margarida preencheu as papeladas de registo e foi para o seu quarto, o quarto tem vista para o mar, o mar que sempre teve um efeito positivo e nostálgico para ela.
Deita-se na cama, deixa a janela aberta, ao longe o mar continua com a sua eterna canção, os seus olhos lentamente começam a fechar-se e ela cai no mundo dos sonhos, sonhos que se fundem com a realidade, a sua realidade.
No dia a seguir ao casamento apanharam o avião com destino á Grécia, chegaram á Capital Atenas de onde apanharam o barco para Creta, a maior ilha deste país, chegaram lá cerca das dez horas da manha, o sol radioso dava á ilha um aspecto quase mágico. A primeira noite que passaram na ilha ficaram em Khaniá, hospedados no hotel Lucia, na Akti Koundouriótou, frente ao porto. Depois de desfazerem as malas foram passear, conhecer um pouco da civilização grega, visitaram a Mesquita Janissaries, em Chania, construída no século XVII, passearam pelo Porto de Rethymnon. O Castello del Molo, uma fortaleza construída entre 1523 e 1540, durante o domínio veneziano. Situa-se na entrada do antigo porto de Heraklion. O Palácio de Knossos restaurado, fica próximo da actual cidade de Heraklion. O antigo palácio de Knossos foi construído pela civilização minóica, nome que deriva do lendário rei Minos, o qual, supostamente, teria morado no palácio. À noite dirigiram-se a Agya Roumeli, uma aldeia muito pequena mas com as tavernas do costume, onde é sempre possível encontrar peixe fresco e salada grega com verdadeiro queijo feta.
Voltaram ao hotel por volta das vinte e três horas, exaustos, mas muito felizes.

No dia seguinte foram visitar o desfiladeiro de Samaria um prazer para os olhos: começa com um mergulho nas suas florestas sombrias e termina com um mergulho no mar.
Chegaram de barco à pequena aldeia de Agya Roumelin, a entrada do Parque Nacional de Samaria, em Xilóskala, a “escada de madeira”. À sua frente levantam-se as Montanhas Brancas, ligeiramente avermelhadas e a desfazer-se em calhaus redondos de todos os tamanhos. Chegaram ao fundo, quase uma hora depois, olharam para eles acumulados em redor do ribeiro que, apesar do seu ar indolente, pode ser extremamente perigoso, sobretudo na Primavera, era difícil de imaginar, enquanto atravessaram estes bosques sombrios, onde a água corre num suave murmurar por baixo das pedras do caminho.

Para trás foram deixando velhas igrejas, sabiamente contornadas por um trilho muito bem cuidado, e vários miradouros. Quase a meio do percurso, encontraram as ruínas da antiga aldeia de Samaria, com bancos e mesas dispostos à sombra, fizeram uma pausa e um piquenique com os alimentos que tinham comprado no pequeno café existente na entrada do parque. Mais ao menos aqui despediram-se da floresta densa e entraram no reino mineral, um cenário que não os deixou esquecer que estavam na ilha de Creta: montanhas secas e encrespadas de pedra, fios de água que parecem não ter qualquer efeito no aspecto árido e morto da terra, um sol ofuscante como só se encontra no Mediterrâneo. Os caminhantes aproveitam os calhaus roliços arrastados pelas águas baixas e transparentes do rio, e dispõem-nos em centenas de montículos ao longo do trilho. E as paredes de pedra vão-se aproximando uma da outra, inexplicavelmente, a ponto de parecerem fechadas na sua frente:

-Achas que o caminho tem continuação? – Perguntou o Miguel.

-Penso que sim, mas não nos resta outra opção senão continuar e ver!

Enquanto seguiam o seu trilho, eram constantes as demonstrações de carinho entre os dois, sem darem por isso iam-se aproximando da próxima curva e avistaram a continuação do trilho tendo a certeza que podiam continuar.
À medida que avançavam pela parte mais estreita do desfiladeiro, verdadeiro corredor de pedra, a temperatura vai baixando e predomina a sombra, já que o sol só toca no chão durante poucas horas por dia.
Olharam para o fundo onde ficam as Portas de Ferro, o fim da garganta:
-Miguel, olha, estica os braços bem fundo, temos a sensação que podemos tocar nas duas paredes!
-Espera, deixa-te estar assim, eu tiro-te uma fotografia, vai ficar linda!
-Eu sou linda! – disse a Margarida rindo-se para o Miguel.
Atrás deles uma fila enorme de turistas fazia fila para também eles tirarem uma fotografia, a garganta, o final do desfiladeiro era um ex libes da ilha de Creta.
Depois de todo o caminho deram um mergulho no mar azul que avistaram ao longe. Trocaram beijos e carícias, era como se estivessem num local só deles onde o resto do mundo não existia. Para a Margarida tudo era magico, estava a fazer a sua viagem de sonho com o homem que ela amava e acima de tudo era seu marido.
Lá do alto o kastro espreitava-os, as ruínas do antigo castelo ainda imponente que parece vigiar os barcos dos piratas, e, por baixo a pequeníssima aldeia de Agya Roumeli, cujas casas parecem ter todas quartos para alugar, um pequeno restaurante ou uma mercearia.
Decidiram alugar um quarto numa casa e ficarem ali alojados para o dia seguinte para continuarem a explorar o desfiladeiro.
No dia seguinte pela manha deram um passeio suave de apenas uma hora por praias de areia escura, visitaram a igreja que aparece em todos os postais, Agyos Pavlos, com o seu ar romântico e desprotegido, encalhada numa praia de seixos negros.
À tarde continuaram mais três horas ao longo da costa e puderam apreciar ainda melhor a natureza da ilha. Chegaram à deliciosa aldeia de Loutró, uma das muitas onde só se chegava de barco ou a pé. Uma aldeia que vive do turismo motivo pelo qual eles adoraram ali a comida. Mas ouve algo que chamou a atenção da Margarida, na praia escrita em várias línguas estava um cartaz que proibia o topless:
-Oh, que pena, estragaram-me a diversão, logo agora que eu me queria bronzear sem a parte de cima do biquíni, é mesmo para estragar a lua de mel de um casal.
-Lá estás tu com as tuas ideias, como se eu te deixasse fazer isso!
-Deixavas, deixavas! Aqui ninguém nos conhece, portanto não havia problema!
-O que é meu, é meu, não é para mostrar aos outros!
-Ui, que marido ciumento que eu arranjei, olhar não tira pedaço!
Margarida envolve o marido num abraço e dá-lhe um beijo apaixonado:
-Não fiques assim, não vês que eu estou a brincar contigo? Diverte-te Miguel, á a nossa lua-de-mel!
De volta a Khaniá, e ao hotel Lucia, a Margarida pegou no guia de turismo e dedicou-se a ler um pouco da história de ler Samaria e a Montanhas Brancas:
-Sabias que segundo a lenda foi um Titã que rasgou as montanhas com a sua espada, criando assim a improvável garganta de pedra, enquanto Zeus, nativo de Creta, instalou o seu trono no cimo do monte Gygilos, um dos cinquenta e oito cumes com mais de dois mil metros que a ilha possui?
-Mas isso é uma lenda!
-Claro, ou não estivéssemos nós na Grécia, terra dos deuses!
-E cientificamente há alguma definição?
-“Eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida!” – Cantarolou a Margarida - tu e a tua mania de querer tudo preto no branco! Ainda bem que eu ainda acredito que nos sonhos.
-Sim sonhadora, mas continua a ler o que diz o guia de turismo!
- Diz que estudos mais recentes, no entanto, mantêm, que foram as torrentes de água que descem das montanhas a caminho do Mar da Líbia que escavaram esta impressionante passagem, ao longo de milénios.
Continuaram a falar mais algum tempo, a fazerem horas para irem jantar.
A Margarida mais adepta de aventuras quis experimentar os variados pratos gregos, gostava de explorar novos sabores e novas especiarias, nunca dizendo que não a uma novidade, com o Miguel as coisas eram mais complicadas, uma vez que este era mais esquisito quando se tratava de conhecer novas gastronomias, levando muitas vezes a Margarida a rir-se e a fazer-se valer das suas diferenças.
No dia seguinte rumaram para as ilhas gregas Cíclades, começaram por visitar a Ilha Amorgos. Chegaram a Vroutsi com os olhos cheios de mar, um azul infinito recortado em baías ruivas e secas. Os socalcos cavados pelo homem há muito foram abandonados, assim como os velhos muros e casas de pedra, agora habitadas por cactos. Uma placa indica o caminho para o cabo de Kastrí; trata-se da localização primitiva da povoação de Arkessíni, já que a mais moderna ficava a alguns quilómetros de distância.
Uma calçada pedregosa desce entre muros altos, em direcção a uma igreja de delicadas proporções, cuja cúpula imita o tom do mar ao meio-dia. Da igreja, a vista alcança o porto de Katápola e a khóra, o nome que se dá nas ilhas à povoação mais importante. Continuaram a descer em direcção ao promontório rochoso que esconde uma capela, alguns túmulos, ruínas e velhos muros. Não são as ruínas que impressionam, mas o local: repararam que o rochedo só é acessível por uma escadaria de pedra e o resto desce a pique sobre o mar.
Um mar liso, onde passam, em silêncio, veleiros e ferries gigantescos. Ao fundo recorta-se a silhueta das “Pequenas Cíclades”, as menores das ilhas habitadas do arquipélago.
O sol doura a paisagem e faz rebrilhar a colmeia branca da khóra. Uma paz imensa acompanha-os e ao cheiro quente e resinoso dos arbustos. Dois pastores vêm até aos estábulos improvisados com pedras antigas, cumprimentando com acenos antes de montar nos burricos e regressar à aldeia.
- Foram as únicas almas com quem nos cruzámos – disse a Margarida – já reparaste Miguel?
-É verdade, mas aqui respira-se paz e tranquilidade, acho que era um dos sítios onde eu não me importava de viver!
-Sim, estou mesmo a imaginar, quando regressasses a Portugal, dava uma coisinha má á tua mãe, quando visse o quão magro que tu estarias!
-Porquê?
-Ainda não te vi comer de bom grado a comida Grega, isso leva-me a deduzir que não seria um bom sítio para víveres.
Dormiram, duas noites nesta ilha, percorrendo tudo o que havia para ver, estavam a ser uns dias fantásticos, sempre receados de sol e temperaturas amenas como caracterizam o Mediterrâneo.
A Ilha Thira foi o seu lar nos oito dias seguintes, o seu hotel tinha uma vista explendida para o mar, alias, Em Firá, a khóra de Thíra, todos os hotéis e restaurantes têm vista sobre a nova ilha que nasce na caldeira do vulcão coberta de mar. Às vezes fumega e, no tempo quente e nublado, redobra o ar de mistério.
O caminho que circunda a crista da caldeira, começa em Imerovígli, a três quilómetros da cidade, do lado esquerdo da estrada, na faixa de terra que fica entre o mar e um pequeno cemitério.
-Reparaste na ilha quando chegados de barco? – Perguntou o Miguel.
-Estás a falar falésias?
-Sim, reparaste que são a pique sobre o mar? E as cores?
-Sim, tem duas que sobressaem mais, o preto e o castanho-avermelhado.
-É sobre essa crista que estamos a caminhar agora, e temos uma visão ampla sobre o “lago marinho” em que se transformou o vulcão.
-Sabes que foi por volta de 1550 a.C. que Thíra, também conhecida por Santoríni, se transformou na mais dramática das Cíclades: o seu vulcão explodiu com tal violência que hoje a ilha é apenas uma meia-lua em forma de quarto crescente.
-Como sabes?
-Que achas? Li, sabes bem que eu gosto de estar informada sobres os locais que visitamos, todos têm historias, lendas e passagens que vale a pena conhecer, bem como culturas e tradições tão diferentes da nossa.
Deste caminho que une Thíra a Ía, a segunda cidade da ilha, é que conseguiram abranger ao mesmo tempo as pintas brancas das povoações sobre a rocha calcinada, as vinhas nas zonas planas, aproveitadas para a agricultura, e algumas praias inesperadas de areia negra.
Esperaram pelo final da tarde em Ía junto de um moinho de vento para ver o por do sol, um espectáculo que na Grécia nunca se cansaram de ver.
O trilho é uma pequena montanha-russa, subindo duas vezes em direcção a duas capelas, descendo para se unir com a estrada durante uns cem metros, e reaparecendo depois do lado esquerdo. Ía é uma inesquecível colmeia de casas brancas e em tons pastel, infinitamente mais bonita e sossegada do que Thíra.

Mais tarde foram jantar e desta vez a Margarida decidiu pedir um peixe grelhado, acompanhado pela salada grega composta de tomate e queijo feta, polvilhada com orégãos e regada com azeite, enquanto o Miguel se ficou por um churrasco, uma vez que continuava a torcer o nariz á salada, acompanharam o jantar com um belo vinho de Santorini.
No dia seguinte subiram ao topo da ilha de teleférico, a vista era deslumbrante, as casas brancas no alto e ao fundo o mar Mediterrâneo. Almoçaram num restaurante perto da saída do teleférico, e passearam pelas ruas da cidade, a margarida aproveitou para comprar alguns presentes para os amigos e familiares. Havia imenso por onde escolher, desde cosméticos feitos de azeite de oliva, ate doces, estátuas de alabastro e jóias gregas.
Passaram por um habitante local com uma carroça carregada de pistachos, a Margarida comprou um saco enorme, escusado será dizer que passaram o resto do dia a passear e a comer come-los.
Eram dias edílicos, dias que se permitiam a tudo, afinal só contavam casar-se uma vez na vida e estes dias por mais viagens que fizessem nunca mais teriam o mesmo “sabor”.
E como o que é bom acaba depressa, ao fim de quase 15 dias em terras da Grécia, regressaram á sua terra, o Miguel ao seu trabalho e a Margarida como mais uma vez não tinha sido colocada voltou a dar explicações.
No mês de Junho a Margarida soube que ia abrir uma vaga num ATL da sua terra e decidiu concorrer.
O verão veio e passou, em Setembro ela começou a trabalhar nesse ATL trabalhava com adolescentes e jovens que estudavam na Escola Básica 2,3 da sua terra, não era o trabalho para o qual ela havia estudado, mas começou por gostar imenso do que fazia e sentia-se realizada quando estava com os jovens que frequentavam o ATL.
Quando regressaram da Grécia o Miguel começou a passar cada vez mais tempo em casa dos pais. Muitas vezes chegava já a Margarida estava deitada, outras vezes estava na sala a ver televisão e á espera dele para jantar, mas a maioria das vezes este já havia comido e nem se lembrava de a avisar. Claro que ela começou a desesperar.
Muitas pessoas da terra quando a viam na rua aos fins-de-semana, perguntavam-lhe se ela estava a viver fora, uma vez que era muito raro encontra-la na rua ao que ela respondia:
-Não, continuo a morar cá, mas como só saio de casa para ir para o trabalho realmente é difícil verem-me na rua.
Chegou Maio, a Margarida havia pedido uma semana de ferias no seu trabalho para poder sair com o marido, um ano de casados era um marco, e como mal se viam ao longo dos meses ela achava que lhes ia fazer bem reencontrarem-se fora do ambiente a que estavam habituados, assim duas semanas antes desse dia decidiu puxar o assunto com o Miguel:
-Estive a pensar, como eu pedi uma semana de férias, e tu também podíamos fazer uma viagem, por exemplo a Paris, para festejarmos o nosso primeiro aniversario de casamento.
-Nem penses nisso Margarida, eu tirei essa semana de férias para ir ajudar a minha mãe, sabes bem que nessa altura é quando há mais coisas para fazer no campo.
-Eu não acredito Miguel, e nós? Ficamos onde? Tu agora já não tens tempo para mim, eu já quase não te vejo e … tiras uma semana de férias no nosso aniversário de casamento para ir ajudar a tua mãe? E eu?
-Estás a reclamar? Já sabias que eu era assim quando te casaste comigo!
-Não, não sabia, se soubesse eu nunca me teria casado contigo, tu agora já não tens tempo para mim!
-Estás a falar se motivos para tal, sabes bem que eu continuo a ter tempo para ti!
-Sim? Quando? Só se for quando estás a dormir!
-Ora Margarida não comeces com queixas que não levas nada daqui!
Não falaram mais da viagem, nem esta se concretizou, o ambiente entre os dois começou a arrefecer, pareciam dois estranhos que viviam na mesma casa, até mesmo o sexo que entre eles sempre tinha sido bom, pareceu perder o interesse, e quando acontecia parecia que era uma coisa feita por obrigação e não por amor, interiormente a Margarida começou a questionar-se das mudanças que a sua vida tinha sofrido.
A única pessoa com quem ela falava de tudo isto era a sua prima Patrícia que sempre fora o seu pilar, o seu ombro amigo, mesmo não se vendo com tanta frequência como antes, sua amizade continuava inabalável. Telefonavam-se muitas vezes e num desses telefonemas a Margarida decide desabafar com a prima:
-Sabes Patrícia, o Miguel mudou tanto, às vezes quase que já nem reconheço o homem com quem me casei.
-Eu por tudo o que me tens contado, já o tinha deixado á muito tempo.
-Já viste o que era eu separar-me dele? O que pensariam as pessoas?
-O que interessa o que as pessoas pensam? Margarida a tua felicidade está acima de tudo, não tens de estar a pensar nos outros! Se não és feliz com ele só tens mesmo é que lutar por ti!
-É difícil, por incrível que possa parecer eu gosto muito dele, e sinceramente acho que prefiro tê-lo só a noite para mim a não o ter de forma nenhuma.
-Tu estás a anular-te e isso não é bom para nenhum dos dois, mas especialmente para ti! Margarida tu estás a deixar que ele tome conta da tua vida, tu deixas que ele tome todas as decisões, mas o que está bem para ele não tem que estar bem para ti, por favor, acorda desse sonho, … quero dizer acorda desse pesadelo.
-Não sei, não consigo!
Era este o estado de espírito que a Patrícia via na Margarida ano após ano.
Ao fim de dois anos de casamento a Margarida descobre que está grávida. No primeiro mês de gravidez decide não contar nada ao Miguel, queria ter a certeza que não se tinha enganado, apesar dos testes de gravidez que se compram nas farmácias serem quase cem por cento fiáveis ela queria ter a certeza pelo seu médico de família. Assim sem dizer nada a ninguém marcou uma consulta com esse fim. O médico mandou-a fazer algumas análises e ao fim de duas semanas, chegaram os resultados, para ela já era difícil esconder, uma vez que cada vez que se levantava da cama era difícil controlar os enjoos que se seguiam. O médico confirmou a gravidez e nesse mesmo dia á noite ela decidiu contar ao Miguel:
-Miguel, tenho uma coisa para te dizer.
-Espero que não seja outra vez uma das tuas queixas, temos andado muito bem.
-Não, nada disso, mas espero que o que eu tenho para te dizer venha contribuir ainda mais para a nossa felicidade.
-Então conta lá!
Antes de lhe contar a Margarida vai ao quarto buscar um pequeno embrulho que tinha comprado:
-Toma, isto é para ti!
-Mas eu não faço anos!
-Pois não, mas abre!
O Miguel pegou no embrulho e começou a rasgar o papel, de dentro deste tira uma pequena chupeta em tons de amarelo, olha para esta e pergunta:
-O que é isto Margarida?
-Uma chupeta, não dá para ver?
-Sim, isso eu já sei, mas… para quê uma chupeta?
-Miguel, eu estou grávida!
-Estas grávida? – Miguel olha perplexo para a mulher – mas como?
-Ora Miguel, como é que eu fiquei grávida? Queres que te faça um desenho?
-Grávida? Grávida? Vou ser pai?
-Vais, dentro de mais ou menos oito meses vamos ter um bebe!
Em vez de pegar na Margarida, dar-lhe um beijo, festejar com ela, ele corre para o telefone para contar á mãe dele que ia ser pai:
-Mãe, adivinha! Vais ter um neto para criar, a Margarida está grávida!
A Margarida vai para o quarto, já não quer ouvir mais nada, as palavras do Miguel ecoam na sua cabeça. “Vais ter um neto para criar”, e ela era o quê? Uma barriga de aluguer? Não, isso não ia permitir, mas nesse momento não se ia zangar, queria viver a sua gravidez tranquilamente, aquele filho era dela, estava dentro dela, e nada nem ninguém lho iria tirar.
Ao quinto mês de gravidez já a barriga da Margarida era bem evidente, e souberam que iam ter uma menina, o Miguel não cabia em si de contente, ia ter uma filha, andava orgulhoso, só falava nisso. Em casa as coisas continuavam na mesma, ele sempre em casa dos pais e a Margarida sozinha.
Numa manha de Março, aos sete meses de gravidez e depois de uma noite mal dormida com dores na zona da barriga, a Margarida levanta-se para ir trabalhar, mas a meio do dia ela já sem aguentar as dores decide contar á colega que trabalhava com ela, que estava com dores e a perder sangue desde a hora do almoço. A colega fica muito preocupada e decide ir com ela ao hospital. Do hospital a Margarida é levada para a maternidade para Coimbra. A colega telefona para a mãe da Margarida que tenta de todos os meios para encontrar o Miguel mas não consegue, decide então telefonar para casa dos pais deste e deixa um recado com uma irmã dele. Os pais da Margarida seguem para Coimbra para a maternidade e lá são informados que a filha está a sofrer uma cesariana, mas o bebe já estava morto, por isso é que ela entrou em trabalho de parto. Ficam arrasados.
Eram quase vinte horas quando o Miguel aparece na maternidade acompanhado da mãe dele. Vê os pais da Margarida e dirige-se a eles:
-A Margarida? Já sabem alguma coisa?
-Já, a Margarida perdeu a menina, a bebe já estava morta quando aqui chegou, por isso a Margarida entrou em trabalho de parto!
-Mas como? Ela não me disse nada!
-Claro! Como é que ela te podia dizer alguma coisa? Tu só vais a casa para dormir, se não fosse a colega dela, hoje chegavas a casa e a minha filha podia estar morta! Tu não lhe ligas nada, nem a acompanhas a lado nenhum!
-Porque é que está a falar comigo assim?
-Assim como?
O pai da Margarida não deixa a esposa continuar a falar, leva-a para outro canto da sala, não valia a pena estarem ali a discutir, não ia levar a nada.
Entretanto uma enfermeira veio dizer que a Margarida já estava num quarto:
-A dona Margarida já está no quarto, …
-Posso ver a minha filha? – Perguntou a mãe da Margarida
-De momento não, ela ainda está sob o efeito da anestesia, precisa descansar!
-Ela já sabe que perdeu o bebe? – Perguntou o Miguel.
-Não, e vai ter que ser com muita calma, afinal perder um filho com sete meses de gravidez, não é a mesma coisa que ter um aborto espontâneo aos dois ou três meses. Ela vai-se sentir derrotada, deprimida, revoltada, mas… tenham calma! – Disse a enfermeira – Amanha já a podem ver, esta noite vamos deixa-la descansar.
A Margarida acordou durante a noite, olhou para todos os lados, não sabia onde estava. De repente recordou… as dores… o sangue… num gesto de desespero leva a mão á barriga, … esta está lisa…
-A minha bebe! – É o grito que ecoa na maternidade nessa noite.
Durante meses a Margarida entrou numa enorme depressão, da parte dela toda a gente a tentava ajudar, mas cada vez que ia a casa dos sogros sentia que a olhavam como uma fracassada, não sentia da parte deles a ajuda que necessitava para superar este episódio. O Miguel continuava com a vida dele como se a Margarida não passasse de uma pessoa que lhe mantinha a casa arrumada, a roupa lavada e a comida feita a tempo e horas, mesmo sabendo que a maior parte dos dias nem sequer aparecia para almoçar ou jantar.
Mas como diz o povo, o tempo tudo cura, e com ela não foi excepção. Teve ordem dos médicos para tentar engravidar novamente, pois ninguém tinha conseguido perceber porque motivo o bebe tinha morrido. A partir desse momento ela deixou de tomar o anticoncepcional e deixou que a natureza seguisse o seu percurso. Todos os meses era tentada pela ansiedade, … mas os meses foram passando e nada aconteceu levando-a a começar a desesperar.
As coisas pioravam porque as cunhadas, cada vez que ficavam grávidas adoravam passear as suas barrigas enormes em frente á Margarida, mostrando-lhe o que ela nunca iria conseguir, fazendo-a sentir-se inferior. A Margarida queria pensar que nada daquilo era de propósito, mas o seu estado era cada vez mais frágil.

3 comentários:

  1. Bem mas que história... continua que escreves muito bem, adorei a descrição da Grécia. Quase que fica difícil imaginar-te a viver no sítio onde já colocaste fotos no outro blogue... uma mulher aventureira... beijinho e força nesse livro. Acho que depois de o terminares devias seriamente considerar falar com uma editora. Quando chegar ao fim eu depois digo-te o que achei da história.

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  2. Uma história emocionante a cada linha, estou encantada com a tua escrita...

    Beijinhos!!

    PS-Tens um desafio no meu blog, espero que aceites..

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  3. Olá querida Margarida, tenho andado contigo no pensamento pois, desde que voltei de férias que não mais soube de ti e nem do teu outro blogue. Que se passa?? Dá noticias ok? Tenho saudades das tuas receitinhas e da tua energia cativante.

    Um grande beijo com muita amizade e saudades...

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