sexta-feira, 20 de maio de 2011

Capitulo VI

CAPITULO VI

Ao chegar ao hotel, a Margarida preencheu as papeladas de registo e foi para o seu quarto, o quarto tem vista para o mar, o mar que sempre teve um efeito positivo e nostálgico para ela.
Deita-se na cama, deixa a janela aberta, ao longe o mar continua com a sua eterna canção, os seus olhos lentamente começam a fechar-se e ela cai no mundo dos sonhos, sonhos que se fundem com a realidade, a sua realidade.
No dia a seguir ao casamento apanharam o avião com destino á Grécia, chegaram á Capital Atenas de onde apanharam o barco para Creta, a maior ilha deste país, chegaram lá cerca das dez horas da manha, o sol radioso dava á ilha um aspecto quase mágico. A primeira noite que passaram na ilha ficaram em Khaniá, hospedados no hotel Lucia, na Akti Koundouriótou, frente ao porto. Depois de desfazerem as malas foram passear, conhecer um pouco da civilização grega, visitaram a Mesquita Janissaries, em Chania, construída no século XVII, passearam pelo Porto de Rethymnon. O Castello del Molo, uma fortaleza construída entre 1523 e 1540, durante o domínio veneziano. Situa-se na entrada do antigo porto de Heraklion. O Palácio de Knossos restaurado, fica próximo da actual cidade de Heraklion. O antigo palácio de Knossos foi construído pela civilização minóica, nome que deriva do lendário rei Minos, o qual, supostamente, teria morado no palácio. À noite dirigiram-se a Agya Roumeli, uma aldeia muito pequena mas com as tavernas do costume, onde é sempre possível encontrar peixe fresco e salada grega com verdadeiro queijo feta.
Voltaram ao hotel por volta das vinte e três horas, exaustos, mas muito felizes.

No dia seguinte foram visitar o desfiladeiro de Samaria um prazer para os olhos: começa com um mergulho nas suas florestas sombrias e termina com um mergulho no mar.
Chegaram de barco à pequena aldeia de Agya Roumelin, a entrada do Parque Nacional de Samaria, em Xilóskala, a “escada de madeira”. À sua frente levantam-se as Montanhas Brancas, ligeiramente avermelhadas e a desfazer-se em calhaus redondos de todos os tamanhos. Chegaram ao fundo, quase uma hora depois, olharam para eles acumulados em redor do ribeiro que, apesar do seu ar indolente, pode ser extremamente perigoso, sobretudo na Primavera, era difícil de imaginar, enquanto atravessaram estes bosques sombrios, onde a água corre num suave murmurar por baixo das pedras do caminho.

Para trás foram deixando velhas igrejas, sabiamente contornadas por um trilho muito bem cuidado, e vários miradouros. Quase a meio do percurso, encontraram as ruínas da antiga aldeia de Samaria, com bancos e mesas dispostos à sombra, fizeram uma pausa e um piquenique com os alimentos que tinham comprado no pequeno café existente na entrada do parque. Mais ao menos aqui despediram-se da floresta densa e entraram no reino mineral, um cenário que não os deixou esquecer que estavam na ilha de Creta: montanhas secas e encrespadas de pedra, fios de água que parecem não ter qualquer efeito no aspecto árido e morto da terra, um sol ofuscante como só se encontra no Mediterrâneo. Os caminhantes aproveitam os calhaus roliços arrastados pelas águas baixas e transparentes do rio, e dispõem-nos em centenas de montículos ao longo do trilho. E as paredes de pedra vão-se aproximando uma da outra, inexplicavelmente, a ponto de parecerem fechadas na sua frente:

-Achas que o caminho tem continuação? – Perguntou o Miguel.

-Penso que sim, mas não nos resta outra opção senão continuar e ver!

Enquanto seguiam o seu trilho, eram constantes as demonstrações de carinho entre os dois, sem darem por isso iam-se aproximando da próxima curva e avistaram a continuação do trilho tendo a certeza que podiam continuar.
À medida que avançavam pela parte mais estreita do desfiladeiro, verdadeiro corredor de pedra, a temperatura vai baixando e predomina a sombra, já que o sol só toca no chão durante poucas horas por dia.
Olharam para o fundo onde ficam as Portas de Ferro, o fim da garganta:
-Miguel, olha, estica os braços bem fundo, temos a sensação que podemos tocar nas duas paredes!
-Espera, deixa-te estar assim, eu tiro-te uma fotografia, vai ficar linda!
-Eu sou linda! – disse a Margarida rindo-se para o Miguel.
Atrás deles uma fila enorme de turistas fazia fila para também eles tirarem uma fotografia, a garganta, o final do desfiladeiro era um ex libes da ilha de Creta.
Depois de todo o caminho deram um mergulho no mar azul que avistaram ao longe. Trocaram beijos e carícias, era como se estivessem num local só deles onde o resto do mundo não existia. Para a Margarida tudo era magico, estava a fazer a sua viagem de sonho com o homem que ela amava e acima de tudo era seu marido.
Lá do alto o kastro espreitava-os, as ruínas do antigo castelo ainda imponente que parece vigiar os barcos dos piratas, e, por baixo a pequeníssima aldeia de Agya Roumeli, cujas casas parecem ter todas quartos para alugar, um pequeno restaurante ou uma mercearia.
Decidiram alugar um quarto numa casa e ficarem ali alojados para o dia seguinte para continuarem a explorar o desfiladeiro.
No dia seguinte pela manha deram um passeio suave de apenas uma hora por praias de areia escura, visitaram a igreja que aparece em todos os postais, Agyos Pavlos, com o seu ar romântico e desprotegido, encalhada numa praia de seixos negros.
À tarde continuaram mais três horas ao longo da costa e puderam apreciar ainda melhor a natureza da ilha. Chegaram à deliciosa aldeia de Loutró, uma das muitas onde só se chegava de barco ou a pé. Uma aldeia que vive do turismo motivo pelo qual eles adoraram ali a comida. Mas ouve algo que chamou a atenção da Margarida, na praia escrita em várias línguas estava um cartaz que proibia o topless:
-Oh, que pena, estragaram-me a diversão, logo agora que eu me queria bronzear sem a parte de cima do biquíni, é mesmo para estragar a lua de mel de um casal.
-Lá estás tu com as tuas ideias, como se eu te deixasse fazer isso!
-Deixavas, deixavas! Aqui ninguém nos conhece, portanto não havia problema!
-O que é meu, é meu, não é para mostrar aos outros!
-Ui, que marido ciumento que eu arranjei, olhar não tira pedaço!
Margarida envolve o marido num abraço e dá-lhe um beijo apaixonado:
-Não fiques assim, não vês que eu estou a brincar contigo? Diverte-te Miguel, á a nossa lua-de-mel!
De volta a Khaniá, e ao hotel Lucia, a Margarida pegou no guia de turismo e dedicou-se a ler um pouco da história de ler Samaria e a Montanhas Brancas:
-Sabias que segundo a lenda foi um Titã que rasgou as montanhas com a sua espada, criando assim a improvável garganta de pedra, enquanto Zeus, nativo de Creta, instalou o seu trono no cimo do monte Gygilos, um dos cinquenta e oito cumes com mais de dois mil metros que a ilha possui?
-Mas isso é uma lenda!
-Claro, ou não estivéssemos nós na Grécia, terra dos deuses!
-E cientificamente há alguma definição?
-“Eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida!” – Cantarolou a Margarida - tu e a tua mania de querer tudo preto no branco! Ainda bem que eu ainda acredito que nos sonhos.
-Sim sonhadora, mas continua a ler o que diz o guia de turismo!
- Diz que estudos mais recentes, no entanto, mantêm, que foram as torrentes de água que descem das montanhas a caminho do Mar da Líbia que escavaram esta impressionante passagem, ao longo de milénios.
Continuaram a falar mais algum tempo, a fazerem horas para irem jantar.
A Margarida mais adepta de aventuras quis experimentar os variados pratos gregos, gostava de explorar novos sabores e novas especiarias, nunca dizendo que não a uma novidade, com o Miguel as coisas eram mais complicadas, uma vez que este era mais esquisito quando se tratava de conhecer novas gastronomias, levando muitas vezes a Margarida a rir-se e a fazer-se valer das suas diferenças.
No dia seguinte rumaram para as ilhas gregas Cíclades, começaram por visitar a Ilha Amorgos. Chegaram a Vroutsi com os olhos cheios de mar, um azul infinito recortado em baías ruivas e secas. Os socalcos cavados pelo homem há muito foram abandonados, assim como os velhos muros e casas de pedra, agora habitadas por cactos. Uma placa indica o caminho para o cabo de Kastrí; trata-se da localização primitiva da povoação de Arkessíni, já que a mais moderna ficava a alguns quilómetros de distância.
Uma calçada pedregosa desce entre muros altos, em direcção a uma igreja de delicadas proporções, cuja cúpula imita o tom do mar ao meio-dia. Da igreja, a vista alcança o porto de Katápola e a khóra, o nome que se dá nas ilhas à povoação mais importante. Continuaram a descer em direcção ao promontório rochoso que esconde uma capela, alguns túmulos, ruínas e velhos muros. Não são as ruínas que impressionam, mas o local: repararam que o rochedo só é acessível por uma escadaria de pedra e o resto desce a pique sobre o mar.
Um mar liso, onde passam, em silêncio, veleiros e ferries gigantescos. Ao fundo recorta-se a silhueta das “Pequenas Cíclades”, as menores das ilhas habitadas do arquipélago.
O sol doura a paisagem e faz rebrilhar a colmeia branca da khóra. Uma paz imensa acompanha-os e ao cheiro quente e resinoso dos arbustos. Dois pastores vêm até aos estábulos improvisados com pedras antigas, cumprimentando com acenos antes de montar nos burricos e regressar à aldeia.
- Foram as únicas almas com quem nos cruzámos – disse a Margarida – já reparaste Miguel?
-É verdade, mas aqui respira-se paz e tranquilidade, acho que era um dos sítios onde eu não me importava de viver!
-Sim, estou mesmo a imaginar, quando regressasses a Portugal, dava uma coisinha má á tua mãe, quando visse o quão magro que tu estarias!
-Porquê?
-Ainda não te vi comer de bom grado a comida Grega, isso leva-me a deduzir que não seria um bom sítio para víveres.
Dormiram, duas noites nesta ilha, percorrendo tudo o que havia para ver, estavam a ser uns dias fantásticos, sempre receados de sol e temperaturas amenas como caracterizam o Mediterrâneo.
A Ilha Thira foi o seu lar nos oito dias seguintes, o seu hotel tinha uma vista explendida para o mar, alias, Em Firá, a khóra de Thíra, todos os hotéis e restaurantes têm vista sobre a nova ilha que nasce na caldeira do vulcão coberta de mar. Às vezes fumega e, no tempo quente e nublado, redobra o ar de mistério.
O caminho que circunda a crista da caldeira, começa em Imerovígli, a três quilómetros da cidade, do lado esquerdo da estrada, na faixa de terra que fica entre o mar e um pequeno cemitério.
-Reparaste na ilha quando chegados de barco? – Perguntou o Miguel.
-Estás a falar falésias?
-Sim, reparaste que são a pique sobre o mar? E as cores?
-Sim, tem duas que sobressaem mais, o preto e o castanho-avermelhado.
-É sobre essa crista que estamos a caminhar agora, e temos uma visão ampla sobre o “lago marinho” em que se transformou o vulcão.
-Sabes que foi por volta de 1550 a.C. que Thíra, também conhecida por Santoríni, se transformou na mais dramática das Cíclades: o seu vulcão explodiu com tal violência que hoje a ilha é apenas uma meia-lua em forma de quarto crescente.
-Como sabes?
-Que achas? Li, sabes bem que eu gosto de estar informada sobres os locais que visitamos, todos têm historias, lendas e passagens que vale a pena conhecer, bem como culturas e tradições tão diferentes da nossa.
Deste caminho que une Thíra a Ía, a segunda cidade da ilha, é que conseguiram abranger ao mesmo tempo as pintas brancas das povoações sobre a rocha calcinada, as vinhas nas zonas planas, aproveitadas para a agricultura, e algumas praias inesperadas de areia negra.
Esperaram pelo final da tarde em Ía junto de um moinho de vento para ver o por do sol, um espectáculo que na Grécia nunca se cansaram de ver.
O trilho é uma pequena montanha-russa, subindo duas vezes em direcção a duas capelas, descendo para se unir com a estrada durante uns cem metros, e reaparecendo depois do lado esquerdo. Ía é uma inesquecível colmeia de casas brancas e em tons pastel, infinitamente mais bonita e sossegada do que Thíra.

Mais tarde foram jantar e desta vez a Margarida decidiu pedir um peixe grelhado, acompanhado pela salada grega composta de tomate e queijo feta, polvilhada com orégãos e regada com azeite, enquanto o Miguel se ficou por um churrasco, uma vez que continuava a torcer o nariz á salada, acompanharam o jantar com um belo vinho de Santorini.
No dia seguinte subiram ao topo da ilha de teleférico, a vista era deslumbrante, as casas brancas no alto e ao fundo o mar Mediterrâneo. Almoçaram num restaurante perto da saída do teleférico, e passearam pelas ruas da cidade, a margarida aproveitou para comprar alguns presentes para os amigos e familiares. Havia imenso por onde escolher, desde cosméticos feitos de azeite de oliva, ate doces, estátuas de alabastro e jóias gregas.
Passaram por um habitante local com uma carroça carregada de pistachos, a Margarida comprou um saco enorme, escusado será dizer que passaram o resto do dia a passear e a comer come-los.
Eram dias edílicos, dias que se permitiam a tudo, afinal só contavam casar-se uma vez na vida e estes dias por mais viagens que fizessem nunca mais teriam o mesmo “sabor”.
E como o que é bom acaba depressa, ao fim de quase 15 dias em terras da Grécia, regressaram á sua terra, o Miguel ao seu trabalho e a Margarida como mais uma vez não tinha sido colocada voltou a dar explicações.
No mês de Junho a Margarida soube que ia abrir uma vaga num ATL da sua terra e decidiu concorrer.
O verão veio e passou, em Setembro ela começou a trabalhar nesse ATL trabalhava com adolescentes e jovens que estudavam na Escola Básica 2,3 da sua terra, não era o trabalho para o qual ela havia estudado, mas começou por gostar imenso do que fazia e sentia-se realizada quando estava com os jovens que frequentavam o ATL.
Quando regressaram da Grécia o Miguel começou a passar cada vez mais tempo em casa dos pais. Muitas vezes chegava já a Margarida estava deitada, outras vezes estava na sala a ver televisão e á espera dele para jantar, mas a maioria das vezes este já havia comido e nem se lembrava de a avisar. Claro que ela começou a desesperar.
Muitas pessoas da terra quando a viam na rua aos fins-de-semana, perguntavam-lhe se ela estava a viver fora, uma vez que era muito raro encontra-la na rua ao que ela respondia:
-Não, continuo a morar cá, mas como só saio de casa para ir para o trabalho realmente é difícil verem-me na rua.
Chegou Maio, a Margarida havia pedido uma semana de ferias no seu trabalho para poder sair com o marido, um ano de casados era um marco, e como mal se viam ao longo dos meses ela achava que lhes ia fazer bem reencontrarem-se fora do ambiente a que estavam habituados, assim duas semanas antes desse dia decidiu puxar o assunto com o Miguel:
-Estive a pensar, como eu pedi uma semana de férias, e tu também podíamos fazer uma viagem, por exemplo a Paris, para festejarmos o nosso primeiro aniversario de casamento.
-Nem penses nisso Margarida, eu tirei essa semana de férias para ir ajudar a minha mãe, sabes bem que nessa altura é quando há mais coisas para fazer no campo.
-Eu não acredito Miguel, e nós? Ficamos onde? Tu agora já não tens tempo para mim, eu já quase não te vejo e … tiras uma semana de férias no nosso aniversário de casamento para ir ajudar a tua mãe? E eu?
-Estás a reclamar? Já sabias que eu era assim quando te casaste comigo!
-Não, não sabia, se soubesse eu nunca me teria casado contigo, tu agora já não tens tempo para mim!
-Estás a falar se motivos para tal, sabes bem que eu continuo a ter tempo para ti!
-Sim? Quando? Só se for quando estás a dormir!
-Ora Margarida não comeces com queixas que não levas nada daqui!
Não falaram mais da viagem, nem esta se concretizou, o ambiente entre os dois começou a arrefecer, pareciam dois estranhos que viviam na mesma casa, até mesmo o sexo que entre eles sempre tinha sido bom, pareceu perder o interesse, e quando acontecia parecia que era uma coisa feita por obrigação e não por amor, interiormente a Margarida começou a questionar-se das mudanças que a sua vida tinha sofrido.
A única pessoa com quem ela falava de tudo isto era a sua prima Patrícia que sempre fora o seu pilar, o seu ombro amigo, mesmo não se vendo com tanta frequência como antes, sua amizade continuava inabalável. Telefonavam-se muitas vezes e num desses telefonemas a Margarida decide desabafar com a prima:
-Sabes Patrícia, o Miguel mudou tanto, às vezes quase que já nem reconheço o homem com quem me casei.
-Eu por tudo o que me tens contado, já o tinha deixado á muito tempo.
-Já viste o que era eu separar-me dele? O que pensariam as pessoas?
-O que interessa o que as pessoas pensam? Margarida a tua felicidade está acima de tudo, não tens de estar a pensar nos outros! Se não és feliz com ele só tens mesmo é que lutar por ti!
-É difícil, por incrível que possa parecer eu gosto muito dele, e sinceramente acho que prefiro tê-lo só a noite para mim a não o ter de forma nenhuma.
-Tu estás a anular-te e isso não é bom para nenhum dos dois, mas especialmente para ti! Margarida tu estás a deixar que ele tome conta da tua vida, tu deixas que ele tome todas as decisões, mas o que está bem para ele não tem que estar bem para ti, por favor, acorda desse sonho, … quero dizer acorda desse pesadelo.
-Não sei, não consigo!
Era este o estado de espírito que a Patrícia via na Margarida ano após ano.
Ao fim de dois anos de casamento a Margarida descobre que está grávida. No primeiro mês de gravidez decide não contar nada ao Miguel, queria ter a certeza que não se tinha enganado, apesar dos testes de gravidez que se compram nas farmácias serem quase cem por cento fiáveis ela queria ter a certeza pelo seu médico de família. Assim sem dizer nada a ninguém marcou uma consulta com esse fim. O médico mandou-a fazer algumas análises e ao fim de duas semanas, chegaram os resultados, para ela já era difícil esconder, uma vez que cada vez que se levantava da cama era difícil controlar os enjoos que se seguiam. O médico confirmou a gravidez e nesse mesmo dia á noite ela decidiu contar ao Miguel:
-Miguel, tenho uma coisa para te dizer.
-Espero que não seja outra vez uma das tuas queixas, temos andado muito bem.
-Não, nada disso, mas espero que o que eu tenho para te dizer venha contribuir ainda mais para a nossa felicidade.
-Então conta lá!
Antes de lhe contar a Margarida vai ao quarto buscar um pequeno embrulho que tinha comprado:
-Toma, isto é para ti!
-Mas eu não faço anos!
-Pois não, mas abre!
O Miguel pegou no embrulho e começou a rasgar o papel, de dentro deste tira uma pequena chupeta em tons de amarelo, olha para esta e pergunta:
-O que é isto Margarida?
-Uma chupeta, não dá para ver?
-Sim, isso eu já sei, mas… para quê uma chupeta?
-Miguel, eu estou grávida!
-Estas grávida? – Miguel olha perplexo para a mulher – mas como?
-Ora Miguel, como é que eu fiquei grávida? Queres que te faça um desenho?
-Grávida? Grávida? Vou ser pai?
-Vais, dentro de mais ou menos oito meses vamos ter um bebe!
Em vez de pegar na Margarida, dar-lhe um beijo, festejar com ela, ele corre para o telefone para contar á mãe dele que ia ser pai:
-Mãe, adivinha! Vais ter um neto para criar, a Margarida está grávida!
A Margarida vai para o quarto, já não quer ouvir mais nada, as palavras do Miguel ecoam na sua cabeça. “Vais ter um neto para criar”, e ela era o quê? Uma barriga de aluguer? Não, isso não ia permitir, mas nesse momento não se ia zangar, queria viver a sua gravidez tranquilamente, aquele filho era dela, estava dentro dela, e nada nem ninguém lho iria tirar.
Ao quinto mês de gravidez já a barriga da Margarida era bem evidente, e souberam que iam ter uma menina, o Miguel não cabia em si de contente, ia ter uma filha, andava orgulhoso, só falava nisso. Em casa as coisas continuavam na mesma, ele sempre em casa dos pais e a Margarida sozinha.
Numa manha de Março, aos sete meses de gravidez e depois de uma noite mal dormida com dores na zona da barriga, a Margarida levanta-se para ir trabalhar, mas a meio do dia ela já sem aguentar as dores decide contar á colega que trabalhava com ela, que estava com dores e a perder sangue desde a hora do almoço. A colega fica muito preocupada e decide ir com ela ao hospital. Do hospital a Margarida é levada para a maternidade para Coimbra. A colega telefona para a mãe da Margarida que tenta de todos os meios para encontrar o Miguel mas não consegue, decide então telefonar para casa dos pais deste e deixa um recado com uma irmã dele. Os pais da Margarida seguem para Coimbra para a maternidade e lá são informados que a filha está a sofrer uma cesariana, mas o bebe já estava morto, por isso é que ela entrou em trabalho de parto. Ficam arrasados.
Eram quase vinte horas quando o Miguel aparece na maternidade acompanhado da mãe dele. Vê os pais da Margarida e dirige-se a eles:
-A Margarida? Já sabem alguma coisa?
-Já, a Margarida perdeu a menina, a bebe já estava morta quando aqui chegou, por isso a Margarida entrou em trabalho de parto!
-Mas como? Ela não me disse nada!
-Claro! Como é que ela te podia dizer alguma coisa? Tu só vais a casa para dormir, se não fosse a colega dela, hoje chegavas a casa e a minha filha podia estar morta! Tu não lhe ligas nada, nem a acompanhas a lado nenhum!
-Porque é que está a falar comigo assim?
-Assim como?
O pai da Margarida não deixa a esposa continuar a falar, leva-a para outro canto da sala, não valia a pena estarem ali a discutir, não ia levar a nada.
Entretanto uma enfermeira veio dizer que a Margarida já estava num quarto:
-A dona Margarida já está no quarto, …
-Posso ver a minha filha? – Perguntou a mãe da Margarida
-De momento não, ela ainda está sob o efeito da anestesia, precisa descansar!
-Ela já sabe que perdeu o bebe? – Perguntou o Miguel.
-Não, e vai ter que ser com muita calma, afinal perder um filho com sete meses de gravidez, não é a mesma coisa que ter um aborto espontâneo aos dois ou três meses. Ela vai-se sentir derrotada, deprimida, revoltada, mas… tenham calma! – Disse a enfermeira – Amanha já a podem ver, esta noite vamos deixa-la descansar.
A Margarida acordou durante a noite, olhou para todos os lados, não sabia onde estava. De repente recordou… as dores… o sangue… num gesto de desespero leva a mão á barriga, … esta está lisa…
-A minha bebe! – É o grito que ecoa na maternidade nessa noite.
Durante meses a Margarida entrou numa enorme depressão, da parte dela toda a gente a tentava ajudar, mas cada vez que ia a casa dos sogros sentia que a olhavam como uma fracassada, não sentia da parte deles a ajuda que necessitava para superar este episódio. O Miguel continuava com a vida dele como se a Margarida não passasse de uma pessoa que lhe mantinha a casa arrumada, a roupa lavada e a comida feita a tempo e horas, mesmo sabendo que a maior parte dos dias nem sequer aparecia para almoçar ou jantar.
Mas como diz o povo, o tempo tudo cura, e com ela não foi excepção. Teve ordem dos médicos para tentar engravidar novamente, pois ninguém tinha conseguido perceber porque motivo o bebe tinha morrido. A partir desse momento ela deixou de tomar o anticoncepcional e deixou que a natureza seguisse o seu percurso. Todos os meses era tentada pela ansiedade, … mas os meses foram passando e nada aconteceu levando-a a começar a desesperar.
As coisas pioravam porque as cunhadas, cada vez que ficavam grávidas adoravam passear as suas barrigas enormes em frente á Margarida, mostrando-lhe o que ela nunca iria conseguir, fazendo-a sentir-se inferior. A Margarida queria pensar que nada daquilo era de propósito, mas o seu estado era cada vez mais frágil.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Capitulo V

CAPITULO V

-Parabéns!
Esta era a palavra que mais se ouvia no ar nesse dia, a margarida e alguns colegas de curso tinham acabado de se formar. Agora ia começar a serio, os concursos, as desilusões por não ter entrado, tanta coisa que ainda tinha que passar, arranjar emprego alternativo, enfim, ainda não sabia bem o que ia fazer, mas esse dia era para comemorar, os pais e a família mais chegada estavam ali, do lado dela, felizes.
Passaram dois anos de muita luta interior para voltar a sair com alguém e sempre que o fazia, ele estava lá presente, era impossível não comparar, nunca mais ninguém a beijara como o Miguel a beijava, a saudade era um tormento no dia-a-dia, nunca deixou que mais ninguém entrasse na sua intimidade, não conseguia, o Miguel continuava muito presente na sua vida, nunca mais se falaram, pouco sabia dele, o que sabia era o que o pai por vezes deixava escapar, sabia que ele nunca mais tinha saído com ninguém, … Mas hoje não, hoje era um dia especial, não podia estraga-lo a pensar no Miguel, ia deixar a sua magoa para a noite quando os seus pais fossem embora e ela finalmente estivesse sozinha. Ao longo do dia em todos os lugares que estava, ela teve a sensação que se, se virasse para o lado ia dar de caras com o Miguel, uma sensação tão estranha, aquele formigueiro tão familiar, mas por mais que olhasse em volta ele não estava lá, claro, ele estava a setenta quilómetros de distância de Coimbra, não passava da sua imaginação a pregar-lhe alguma rasteira. A noite chegou, e com ela a eminente partida dos pais e do resto dos familiares.
Não regressaria nos dias mais próximos para a sua terra, queria despedir-se como deve ser dos colegas de curso, queria despedir-se dos anos maravilhosos que passou em Coimbra, e isso, teria que ser com calma, aquele apartamento que dizia tanto da sua vida, que tinha sido o seu ninho de amor com o Miguel, tudo isso levava tempo a deixar. A Mariana e o Zé há já dois anos que não viviam com a Margarida, tinham sido colocados em hospitais perto da terra delas.
Finalmente os pais da Margarida foram embora, ela subiu ao apartamento, estava a precisar de um duche urgentemente, afinal tinha sido um dia de muito calor, e o fato académico não ajudava muito nesse sentido porque era um pouco quente. Estava a entrar para o duche quando ouviu a campainha:
-Bem eu não acredito, de que se terão esquecido os meus pais, só podem ser eles!
Vestiu um roupão de verão, que mal cobria as suas pernas bem torneadas, e foi abrir a porta. Como estava a contar de ver o pai ou a mãe nem se incomodou em perguntar quem era, abriu rapidamente a porta a dizer:
-De que se esqueceram desta vez?...
Parou de repente, á sua frente estava o Miguel com um grande ramo de rosas vermelhas, olhava para a Margarida com aquela adoração que lhe era típica, nada se tinha perdido entre eles.
-Miguel!
-Doutora Margarida!
-Nada disso, Margarida sempre!
-Parabéns!
-Obrigado! Que fazes aqui?
-Tinha que te ver, precisava ver-te, precisava estar um pouco contigo!
-Entra, eu ia tomar um duche, estou toda transpirada, se me deres licença eu vou lá rapidinho, senta-te e fica á vontade.
Não queria acreditar, ele estava ali? Na sua sala, entrou no duche, não conseguia nem pensar, era muito estranho ao fim de dois anos, quase três, que o Miguel ali estivesse novamente. Limpou-se e como era seu hábito vestiu umas velhas calças de fato de treino e uma t-shirt sem mangas de andar por casa. Dirigiu-se á sala onde o Miguel estava sentado á sua espera.
-Desculpa se tomei liberdade a mais, mas fui pôr as rosas na água!
-Não há problema nenhum, a casa é a mesma, nada mudou!
-Que vai fazer agora?
-Agora? Neste momento?
-Não, agora que terminaste o curso, vais manter-te aqui em Coimbra?
-Não, vou ficar mais uns dias para me despedir dos meus colegas de curso, deixar a casa como deve ser, enfim, tudo com muita calma, afinal foram muitos anos aqui. Depois sim, vou para casa, tenho que concorrer para dar aulas, mas se não conseguir, tenho que arranjar um trabalho, não vou ficar em casa a viver á custa dos meus pais, já não consigo, tornei-me muito independente. E tu? Como estás?
-Sempre na mesma, continuo a trabalhar junto do teu pai, não me casei, ainda vivo em casa dos meus pais, enfim, sempre a mesma rotina. E tu tens alguém na tua vida?
-Não, acabei o meu curso, isso sim foi o mais importante, agora o que acontecer, se verá.
-Tenho tantas saudades tuas linda!
-Eu também tenho muitas saudades tuas, mas…
Já não conseguiu acabar a frase, o Miguel agarrou nela e beijou-a, ao inicio muito timidamente, mas depois com uma necessidade enorme de apagar os anos que estiveram separados. A Margarida correspondeu, também para ela o que estava a acontecer era um sonho tornado realidade. As mãos do Miguel exploraram habilmente cada centímetro daquela pele macia, estava difícil de parar, mas a Margarida também não dava sinais de querer parar, sem conseguir deixar de olha-la nos olhos, pegou-lhe ao colo e levou-a para o quarto onde a depositou em cima da cama lentamente, beijou-a e começou um jogo de mãos, sentiam-se dois exploradores querendo descobrir cada vez mais um do outro, os recantos um dia esquecidos eram agora avivados cada vez com mais nitidez. Despiram-se e sentiram nas mãos a urgência a queimar a pele em cada carícia, quanto tempo desperdiçado que tinham de recuperar e o Miguel não ia desistir, a Margarida tinha de casar com ele. Amaram-se, primeiro com urgência, e mais tarde com toda a calma, como se tivessem todo o tempo do mundo, como se as horas parassem, como se eles fossem os dois únicos seres do planeta. Não falaram, as palavras eram supérfluas. Dormiram algumas horas, outras perdiam-nas a fazer amor, redescobriram-se, do futuro ainda não tinham falado, mas tinham tempo para isso. Adormeceram quase de manha, e dormiram até muito tarde. Quando acordaram o Miguel propôs-lhe irem até á Figueira comer qualquer coisa, tomaram duche juntos, voltaram a fazer amor, sentiram-se mais ligados que nunca, mas ainda nenhum tinha puxado o assunto, parecia que queriam prender aquele momento para sempre.
Saíram de casa e foram rumo á Figueira, pelo caminho falaram de coisas banais. Quando chegaram foram comer qualquer coisa a um café e depois foram os dois dar uma volta junto ao mar, esse sempre tinha sido o seu programa preferido, deram as mãos como nos velhos tempos, parecia que nada tinha mudado, pareciam dois namorados que nunca se tinham separado. Ao longe o seu silêncio, era interrompido pelo grito das gaivotas.
-Parece que nada mudou, nem parece que dois anos nos separaram! – Disse o Miguel – a única diferença é que agora és doutora e há dois anos atrás não eras.
-Miguel não voltes a dizer isso, eu sou e sempre serei a Margarida, não quero saber do Doutora ou não, eu não deixei de ser quem era por ter acabado um curso!
-Que pensas fazer em relação a nós?
-Acho que nos devemos sentar e conversar, como dois adultos que somos, como duas pessoas maduras que finalmente podem tomar uma decisão.
-Claro, é isso que eu quero! Nunca deixei de gostar de ti, mas entendi que tu querias ter espaço na tua vida e eu não te estava a deixar viver. Naquele dia que me deixaste, acho que te odiei, achava que merecia uma nova oportunidade, mas depois pensei, pensei muito, e cheguei á conclusão que se me amavas, precisavas daquele tempo e que por fim voltarias para mim.
-Não te cansaste de esperar?
-Não, tinha de esperar por o dia de ontem, sabia que nessa altura já estarias mais livre, sabia que estarias mais mulher, passei o dia todo a observar-te ao longe para ver se tinhas alguém ao teu lado, mas como te vi sempre sozinha, deduzi que o meu lugar não tinha sido ocupado.
-Nunca foi, não foi por falta de quererem, mas eu nunca quis, ainda não estava preparada para te dizer adeus para sempre, continuava a sentir que a minha alma e o meu corpo te pertenciam e eu sentir-me-ia uma traidora!
-Que vamos fazer?
Ambos se sentaram na areia frente ao mar…
-Pretendes arriscar? – Perguntou o Miguel.
-A vida já por si é um risco muito grande, o que arriscamos dentro dela faz parte disso.
-O que queres dizer com isso?
-Miguel, eu não posso ser hipócrita a ponto de te dizer que sou capaz de viver a minha vida sem te ter do meu lado! Eu amo-te, nunca deixei de te amar durante este tempo, portanto, sim, vou arriscar contigo!
-Casa-te comigo!
-Sim, eu caso contigo, amo-te demais, e acho que já perdemos muito tempo na nossa vida.
Acabaram por passar alguns dias em Coimbra, a Margarida não se despediu de ninguém como era o seu propósito, passou todo o tempo com o Miguel, arrumaram a casa, empacotaram tudo dela em caixas e por fim rumaram, uns dias de férias, para o Algarve, durante esse tempo pareciam um autêntico casal em lua-de-mel, os pais dela sabiam que tinha ido para o Algarve, mas pensavam que ela tinha ido com as amigas.
Quando regressaram, a Margarida e o Miguel contaram aos pais que tinham voltado a namorar e que desta vez queriam marcar o casamento, claro que a mãe da Margarida não ficou muito satisfeita:
-Mas um casamento assim? Para quando estão a pensar?
-Para Maio, mãe!
-Maio? Não pode ser, estamos em Agosto, eu não tenho tempo para preparar o casamento assim com tão pouco tempo de antecedência, porquê tanta pressa? Estás grávida Margarida?
-Mãe, se eu estivesse grávida, em Maio além do casamento fazias também o baptizado do teu neto, claro que não estou grávida. Simplesmente queremos casar.
-Se tu fores colocada? Como vai ser?
-Mãe, se eu for colocada, vou trabalhar, não entendo o motivo porque estás a pôr tantos entraves. Vou casar em Maio, tens quase um ano para preparar o casamento.
E assim foi, de Setembro a Maio foi uma azáfama com todos os preparativos, a Margarida folheava revistas de vestidos de noiva, ia tirando ideias para o seu, claro que no final foi um pouco infrutífero, pois a sua mãe já tinha uma ideia muito clara de como queria a filha vestida e quase todas as ideias que a Margarida tinha, foram ficando para trás, foram sendo trocadas pelas ideias da mãe. Chegou a um ponto em que a Margarida preferiu ficar calada e deixar que a mãe desse as ordens, o vestido não estava nada ao gosto dela, mas… que podia ela fazer. Esta calma só foi quebrada por duas coisas, a primeira foi a exigência que a Margarida fez que o seu vestido tinha de ter uma cauda enorme, claro que a mãe disse logo que estava fora de questão, mas desta vez não conseguiu demover a filha e o vestido teve a cauda que a Margarida queria, a outra, foi o véu, a mãe queria véu, a Margarida não, mas desta vez ninguém demoveu a mãe, e que remédio teve a Margarida senão levar o tão famoso véu que a mãe queria, enfim, era só uma vez na vida que se iria casar portanto… deixou que as coisas acontecessem.
O tempo ia passando, a Margarida como não foi colocada dava explicações em casa, pelo menos assim ia ganhando algum dinheiro, e não sentia que os seus anos de estudo tinham sido em vão.
Em Janeiro o Miguel e a Margarida começaram a ver de uma casa para viverem, teriam que alugar uma, e mais tarde então construir a casa que queriam, mas um certo dia a mãe da Margarida decidiu falar com o Miguel:
-Eu estive a falar com o meu marido, e achamos que era melhor arranjarmos o andar de baixo da nossa casa, e vocês ficavam no andar de cima, está arranjado, assim não tem de pagar o aluguer de uma casa.
-Não sei, tenho que falar com a Margarida primeiro, tenho de saber a opinião dela.
-Claro que ela não se vai importar, mas se queres falar com ela fala. Eu acho que era a solução para todos.
-Pois não sei, vou falar com ela.
Mais tarde quando se encontraram o Miguel falou com a Margarida e contou-lhe o que mãe dela tinha dito:
-Amor, a tua mãe hoje veio ter comigo, com uma ideia, que segundo ela, era a ideal para nós.
-Que ideia?
-Ela disse que já tinha falado com o teu pai, e que iam arranjar o andar de baixo da casa para eles e que nós podíamos ficar no andar de cima.
-Hum, não sei, sempre ouvi dizer que quem faz o casamento faz o apartamento, sinceramente não sei se é boa ideia.
-Eu acho que devíamos aceitar, não sei, como és filha única, sempre estavas ali ao pé dos teus pais.
-Olha Miguel se achas que é isso que queres, então ficamos lá, eu acho que não é boa ideia, mas se tu queres, então diz-lhe lá que sim.
-Margarida, se queres ir para outra casa, vamos, eu só não quero que ninguém fique zangado.
-Ninguém tem nada que ficar zangado, é a nossa vida, mas… se queres arriscar, arriscamos
E assim ficou decidido que eles iam ficar a viver no andar de cima de casa dos pais da Margarida, embora esta não se mostrasse muito contente com a ideia.
Os meses passaram a correr e quanto mais se aproximava o dia do casamento mais os nervos iam aumentando, a Margarida e o Miguel discutiam por tudo e por nada. Claro que já tinham começado os desentendimentos com a família do Miguel, mas a Margarida tentava superar tudo isso, não lhe dizendo nada.
Finalmente chegou o primeiro sábado de Maio, o dia amanheceu, lá fora o dia despertava para a vida, flores de mil cores irrompiam pelos campos verdejantes que ainda se conseguem ver nesta vila, os pássaros cantavam alegremente nos ramos das árvores, o sol começava a tingir de laranja o azul do céu. Eram seis da manha, quando a Margarida se levantou para ir à cabeleireira, o casamento estava marcado para as 13 horas mas ainda havia muita coisa para fazer:
-Estás bem-disposta Margarida? – Perguntou a Cabeleireira.
-Sim, muito bem, porquê?
-Não queres um calmante?
-Um calmante? Não! Era suposto eu querer um calmante?
-Todas as noivas ficam muito nervosas, eu tenho sempre aqui comigo calmantes para esse efeito.
-Mas eu não preciso, estou ciente do que vou fazer, portanto, não estou nada nervosa!
-És a primeira noiva que me aparece que não está nervosa!
-Eu não estou mesmo nervosa, já passei por muita coisa para chegar aqui, portanto, o meu casamento foi uma decisão muito bem ponderada.
Eram quase onze horas quando a Margarida chegou a casa, estava na altura de vestir o seu vestido, era o seu dia, nesse dia tinha direito a sentir-se uma princesa, tinha direito a pensar só na felicidade. Já estava quase vestida quando o telefone tocou, alguém atendeu, a Margarida não sabia quem, afinal estava toda a gente de volta dela, nesse dia privacidade era algo que ela não iria conhecer, alguém a chamou:
-Margarida!
-Sim?
-Podes vir ao telefone?
-Quem é?
-O teu noivo.
-Não era suposto ele não falar comigo antes do casamento? – Perguntou a Margarida, embora já se tivesse precipitado a atender o telefone – Miguel, e as regras para sermos felizes? Não sabes que não podes falar comigo antes do casamento?
-Falar posso, não te posso ver, mas estou ansioso para isso, finalmente, vais ser minha mulher, este é o dia mais feliz da minha vida!
-O meu também! Vou acabar de me vestir e arranjar, ainda tenho as fotografias para tirar. Beijo, amo-te!
-Eu também te amo, beijo!
O resto do dia, foi um emaranhado de situações, de emoções que só mais tarde a Margarida conseguiu recordar. Tiraram fotografias e mais fotografias, deram beijos e mais beijos, e quando chegou ao fim do dia, estava completamente cansada, só lhe apetecia tomar um bom banho, e dormir, dormir, dormir!
Eram mais ou menos dezanove horas quando finalmente puderam sair, e se dirigiram para casa para tomar banho e mudar de roupa. Como manda a tradição, o Miguel pegou na Margarida ao colo, e levou-a para dentro de casa. No quarto colocou-a em cima da cama e beijou-a, primeiro suavemente e depois com mais urgência, as mãos dele começaram a explorar a pele dela que estava exposta, levantou-a um pouco e começou lentamente a desapertar cada botão do vestido (e olhem que não eram poucos, cerca de cem botões pequeninos), era um jogo de sedução lento, vagaroso, olhavam-se, beijavam-se, aos poucos a roupa foi caindo ao chão, amaram-se pela primeira vez como marido e mulher. Depois tomaram um banho bem demorado, mais uma vez exploraram-se mutuamente, e o banho tornou-se em mais um momento de imensa paixão. Adormeceram bem tarde, conversaram, brincaram, amaram-se vezes sem conta nessa noite, até que o sono conseguiu vence-los. Na manha seguinte, melhor dizendo, na tarde seguinte, quando acordaram, olharam-se, os seus lábios tocaram-se, era tudo paixão, havia promessas no olhar de ambos, havia sonhos que pretendiam realizar, mas será que aqui começaria a eterna lua-de-mel da Margarida? Era uma dúvida que a atormentava, no fundo eles eram tão diferentes, o que o destino lhes reservaria só o tempo o diria.

terça-feira, 10 de maio de 2011

CAPITULO IV

Os meses foram passando, a Margarida continuava a estudar, estava-se a aproximar a primeira época de exames, e por vezes não lhe dava muito jeito que o Miguel andasse sempre junto dela, pois precisava de estudar ate mais tarde, ou mesmo fazer algumas directas, afinal isso é o mais típico da vida académica, brinca-se durante o ano e depois quando as frequências apertam aí é que todos se lembram de gastar quilos e quilos de café para não dormirem noites e noites seguidas, e depois quando chegava o dia D, eram brancas atrás de brancas, a Margarida nem isso teve tempo de experimentar, porque como o Miguel estava sempre junto dela, ela tinha que manter o seu trabalho actualizado, as frequências correram-lhe muito bem e estava com esperança de ter boas notas. Os pais como ela não se baldava às aulas nem se metia em confusões, deixaram de se preocupar com o namoro dos dois, claro que eles não sabiam nem desconfiavam que a filha praticamente vivia com o Miguel.
Assim se passou o primeiro ano de faculdade da Margarida, sempre com o Miguel por perto, as noites eram passadas juntos no apartamento que entretanto ela e a prima Mariana tinham pedido aos pais para alugarem, dava jeito às duas, uma vez que a Mariana também tinha começado a namorar com Zé, e queriam ter a sua privacidade, entre os quatro havia-se formado uma grande amizade, o Zé simpatizava com o Miguel e vice-versa, claro que pela cabeça dos pais das duas nem sequer passava a ideia delas estarem todos os dias com os namorados, as coisas eram mantidas em silencio por elas. Sempre que os pais delas de disponibilizavam a ir vê-las, os namorados eram informados e nesse dia não iam. E assim as coisas se mantiveram quase dois anos.
A Mariana estava quase a terminar o curso de enfermagem, quando em Junho descobriu que estava grávida, entrou em pânico, claro, numa terra pequena como elas viviam as pessoas iam-se fartar de falar, e o pior era que os pais dela, tal como os da Margarida, eram pessoas conhecidas e respeitadas, e a filha estar grávida ia ser um desapontamento para eles, a Mariana não sabia o que havia de fazer:
-Margarida, o que é que eu faço? O Zé quer ter o bebe, mas e os meus pais? Como lhes vou dizer?
-Mariana, eu acho que tu tens á vontade suficiente com a tua mãe para lhe contares o que se está a passar, fala com ela, ela depois fala com o teu pai.
-Ai, não sei, não sei o que vou fazer, eu tenho tanto medo, e se tenho que me casar e deixar os meus estudos, logo agora que eu estou a acabar…
-Calma, tudo se vai resolver, eu se fosse a ti falava com a tua mãe, era o que eu fazia se fosse comigo, mesmo sabendo que corria o risco de estar a ouvir os meus pais a vida toda, mas o que está feito, feito está.
-Não sei, o Zé anda todo feliz da vida, mas eu… eu não me consigo alegrar.
-Vão os dois passar o fim-de-semana a tua casa e quando vires que o ambiente é propício fala com alguém, não perdes nada por isso.
Claro que o pai da Mariana não ficou muito contente com a situação, mas nesse momento já não havia nada a fazer, a Mariana ia casar-se em Setembro, continuaria a estudar, não tinha lógica deixar o curso quando só lhe faltavam alguns meses para terminar, uma vez que a ultima parte já seria o estágio, e o bebe já teria nascido.
O mês de Julho passou e depressa chegou Agosto, quem este ano não estava muito contente era a Patrícia, e depressa o fez saber á Margarida:
-Olha Margarida, este ano não estou com muita vontade de ir aí passar férias, uma vez que tu já não tens tempo para estar connosco, só andas bem com o Miguel atrás de ti.
-Achas Patrícia?
-Não acho, tenho a certeza, há quanto tempo é que tu não sais com a Sónia e o resto do grupo?
-Também não tenho vindo muito para cá, sabes bem que eu fico muitos fins-de-semana em Coimbra.
-Não sei Margarida, não estou para ir apanhar uma seca, já chega bem ir quando os meus pais forem.
-Vá lá, não sejas chata, ainda por cima o Miguel nem sequer vai ter ferias agora em Agosto, portanto vou ficar o tempo todo sozinha, podemos fazer o que sempre fizemos.
-Olha, eu vou arriscar, mas se me arrepender vais ter que me ouvir.
Com a Patrícia em casa a Margarida passou a sair mais, a rotina delas era mais ou menos sempre a mesma, estavam com o grupo de amigos, iam para o rio, á noite saiam todos juntos e aí já o Miguel os acompanhava, estavam a ser umas férias perfeitas para a Margarida, aliado a tudo isto ela tinha passado para o segundo ano sem deixar nenhuma cadeira por fazer e até tinha notas boas o que deixava os pais muito contentes. Por esta altura eles já estavam conformados com o facto de ela namorar com o Miguel e até gostavam dele.
Faltava uma semana para o final de Agosto quando as coisas se complicaram para o lado da Margarida, estava ela sentada na esplanada do café que havia na praia fluvial com a Patrícia quando apareceram lá uns amigos desta de Lisboa que a margarida não conhecia, a Patrícia apresentou-os á prima e sentaram-se todos numa mesa, estavam a conversar calmamente, riam de vez em quando, uma vez que a Margarida era muito brincalhona, e um dos amigos da prima adorava contar anedotas, ali estiveram bastante tempo sem se aperceberem que o Miguel entretanto chegara e estava a observa-los. Quando a Margarida se voltou e os seus olhares se trocaram, os do Miguel pareciam gelo a olhar para ela, não lhe disse sequer uma palavra, e foi embora, para a Margarida a tarde divertida tinha acabado de uma forma que ela não sabia explicar. Não fez intenção de ir atrás do Miguel, jamais, ela não estava a fazer nada de mal, e ele se tinha chegado, só tinha mesmo era que ter ido ter com ela, será que ela não era dona da sua vida? Será que tinha que andar todo o tempo com medo de pensar que as coisas mais triviais pareciam não ser do agrado do Miguel? Que mais poderia ela fazer para ele andar bem? Fechar-se dentro de uma redoma dentro de casa para ninguém a ver? Não, nada disso, ela tinha uma vida a viver e o Miguel tinha que compreender isso.
Quando a Patrícia e a Margarida iam para casa desta ultima para tomar um duche, mudar de roupa e jantar, O Miguel passou por elas de carro, mas nem sequer parou, fingiu que não conhecia a Margarida, a Patrícia olhou para ela estupefacta e disse:
-Que bicho lhe mordeu? Não te viu?
-Viu, viu muito bem, assim como me viu na esplanada á pouco.
-Não o vi! Onde estava ele?
-Sentado no muro, nem sequer se dignou a ir ter connosco, e quando viu que eu olhei para ele, simplesmente levantou-se e foi-se embora.
-Sem te dizer nada?
-Sim, não me disse nada, eu também não fui atrás dele, Patrícia, eu não tenho que viver a minha vida com medo dele!
-Com medo dele? Ele bate-te?
-Não, nada disso, nunca me tocou com um dedo, mas parece que tudo o que eu faço está errado, parece que eu não me posso falar com ninguém, o simples facto de eu falar com um amigo, para ele já é considerado uma traição, assim eu não consigo continuar.
-Margarida, só continuas se quiseres, tens dezanove anos, quase vinte, tens uma vida pela frente, o Miguel não tem que obrigatoriamente ser o teu futuro, podes conhecer alguém melhor que ele.
-Mas eu adoro o Miguel, eu já não imagino a minha vida sem ele, no fundo acho que ele se impôs de tal maneira na minha vida que ele é o meu pequeno grande mundo.
-Margarida, foge enquanto é tempo, tu andas a anular-te em relação a ele, isso não pode ser. Tu tens tantas capacidades, tu tens tantos talentos, não deixes que ele te anule, luta pela tua vida.
-Vamos ver o que vai dar, eu sempre quero ver o que ele vai fazer, eu não estava a fazer nada de mal, portanto se ele quiser, ele é que tem de vir ter comigo!
-É isso mesmo, mostra-lhe quem és!
Quando chegaram a casa a mãe da Margarida estava com cara de zangada, olhou para elas e perguntou:
-De onde vêm?
-Do rio Madrinha – respondeu a Patrícia – porquê?
-O que andaste a fazer Margarida? – Insistiu a mãe desta.
-Olha mãe, será que podes ser mais directa? Eu detesto quando parece que tens medo de me perguntar as coisas directamente, que eu saiba nunca te escondi nada portanto não ia começar agora.
-Com quem estiveste no rio?
-Com a Patrícia!
-Mais?
-Ah não, - disse a Patrícia – isso é que não, já descobri o que se passa aqui. A Margarida esteve realmente comigo no rio, depois apareceram lá uns amigos meus de Lisboa, que estão aqui na zona a passar férias com os pais, nada de mais!
-O Miguel foi-se embora todo zangado e disse-me que ia pensar se cá voltava ou não.
-Então o Miguel veio com queixinhas, fez bem – disse a Margarida – se ele quiser voltar que volte, agora se ele pensa que eu vou andar atrás dele, está completamente enganado, não fiz nada de mal mãe, não fiz nada que me possa arrepender.
Claro que a Margarida disse isto tudo da boca para fora. O Miguel simplesmente desapareceu, a Margarida continuava a viver o dia-a-dia com a prima e as amigas, andava triste e deprimida, afinal ela gostava mesmo dele, mas… tinha que ser forte, ela não tinha feito nada de mal, não ia andar a correr atrás do menino e a fazer tudo o que ele queria, ele se gostasse mesmo dela voltava, ou então vinha falar com ela e dizer-lhe que estava tudo acabado.
O mês de Agosto chegou ao fim e aproximava-se o dia do casamento da Mariana, a Margarida andava tão entusiasmada com a Patrícia a escolher a roupa do casamento que nem parecia a mesma, estava mais solta, mais livre, voltava a ser a mesma Margarida que toda a gente conhecia, no Miguel já quase nada falava, pensava muito nele, muitas vezes a dor era demasiado forte, queria tê-lo ali do seu lado, ele tinha feito a sua escolha e a ela restava-lhe aceitar a escolha dele e andar com a sua vida para a frente.
O casamento da Mariana foi lindo, um casamento muito simples mas muito bonito mesmo! A Margarida e a Patrícia divertiram-se muito, tinham vindo alguns amigos da Mariana e do Zé que elas já conheciam, e juntaram-se todos, riram, dançaram, brincaram, e assim se passou o dia, pelo pensamento da Margarida nem uma única vez passou a lembrança do Miguel.
O mês de Setembro chegou ao fim e mais uma vez a Margarida regressou a Coimbra, já se tinha passado um mês e o Miguel nunca mais lhe dissera nada, ele era já um passado, uma página guardada no diário da sua vida. Arrumou as coisas que ele ao longo do ano lhe tinha dado, do seu dedo retirou a pequena aliança de compromisso que ele lhe havia dado, ao inicio sentiu-se despedida, quase nua na sua alma, era uma falha muito grande, mas tinha que se habituar e pensar que qualquer dia apareceria a pessoa certa, por agora só queria pensar nos seus estudos e na sua vida futura.
Por seu lado o Miguel não tinha um único dia que não pensasse na Margarida, não devia ter saído assim da vida dela, devia ter voltado atrás, devia ao menos tê-la confrontado com a verdade, devia ter aparecido nesse dia á noite, ou pelo menos no dia a seguir, deviam ter conversado, ter chegado a um acordo, … e agora será que já era tarde demais? Sabia pelo pai da Margarida que ela já tinha voltado para Coimbra, será que devia ir lá ter com ela? Não sabia o que pensar, não sabia sequer se ela lhe iria dar alguma hipótese, mas estava no direito dela. Ele e os seus ciúmes infundados tinham estragado tudo!
Enquanto o Miguel se atormentava, Outubro transformou-se em Novembro, que por sua vez deu a vez a Dezembro, a Margarida continuava a sua vida em Coimbra, era uma pessoa completamente diferente, os colegas mal a reconheciam, saía com eles, faziam noitadas, assistia a concertos, ia ao cinema, era uma Margarida completamente diferente da tímida Margarida do primeiro ano, os colegas descobriram que ela era divertida e adorava fazer rir. Não vinha muitas vezes a casa, passava a maior parte do tempo em Coimbra.
Na semana antes do Natal regressou a casa, embora estivesse muito frio, a Sónia conseguiu desafia-la para sair um dia á noite para beberem um café e conversar um bocado, a Margarida aceitou e depois do jantar lá se vestiu e foi ter com a amiga. Quando a ela chegou a Sónia já estava á espera.
-Olá, desculpa se me atrasei. – Disse a Margarida
-Nada disso, acabei de chegar agora, tanto que ainda nem pedi o café nem nada.
-Então, continuas satisfeita com o teu trabalho?
-Claro que continuo, gosto do que faço, e não sei se já viste, mas tenho muita sorte, afinal estou dentro de casa, e não tenho que me preocupar com muitas coisas.
-Lá nisso tens razão!
-E tu? Como é que te sentes agora?
-Bem, muito bem mesmo, há muito tempo que eu não me sentia tão livre, tão eu, não sei se entendes.
-Claro que entendo, finalmente reconheço a antiga rapariga que tu eras. Ainda gostas dele?
-Gosto, gosto muito dele, ele marcou-me em muitas coisas, mas olha, só me resta tirar desta relação duas coisas: do que foi bom, restam as lembranças e os bons momentos que partilhamos, do que foi mau, só me resta aprender com os meus erros e deles tirar lições para relacionamentos futuros.
-Quer dizer, já não há nenhuma hipótese de volta?
-Eu penso que não, ele deixou-me sem uma única palavra, foi á minha mãe que ele foi dizer que ia pensar se continuava comigo ou não, a mim nunca me disse nada. Já lá vão quatro meses, acho que foi mesmo definitivo.
-Em certas coisas o Filipe tinha razão!
-Eu sei, mas eu não podia deixar de viver a minha vida pelo Filipe, eu sabia o risco que estava a correr, se ficasse com o Miguel, e quando te falo aqui em risco quero dizer que sabia que a minha amizade com o Filipe ia ficar para sempre estragada, e o tempo e o afastamento ditou isso.
-Ele vai-se casar!
-O Filipe?
-Sim, com a Vera, sabes?
-Sim, sei, ainda bem, fico contente por ele, se calhar se isto não se tivesse passado ele não tinha descoberto a Vera, fico contente por ele, e desejo acima de tudo que eles sejam muito felizes.
De repente a Margarida cala-se, sente um olhar intenso sobre ela, uma sensação que ela não sabia que ainda existia na sua vida, ela sabia sempre quando o Miguel olhava para ela, ou quando estava a ser observada por ele, sentia um formigueiro no corpo, era como se uma força que os unia os fizesse ter a percepção do outro. Olhou para o balcão e lá estava ele, lindo, não havia mudado nada.
-Margarida! – Chamou a Sónia – estás bem?
-Estou, sabes quem está ali?
-Não acredito, o Miguel?
-Acredita que é verdade, está ali.
-O que vais fazer?
-Nada, não vou mexer um dedo sequer, Sónia, quem deixou de falar comigo foi ele, ele nem nunca se preocupou em saber a minha versão da historia, não vou perder o meu tempo com quem não se preocupa comigo!
-Fazes bem amiga!
A Sónia e a Margarida continuaram a falar durante algum tempo. O Miguel nunca tirou os olhos da Margarida, mas esta nem um simples sorriso esboçou. Quando sentiu que já estava a perder as forças, perguntou á Sónia se queria ir embora, mas como ela ainda ia ficar mais um bocado, a Margarida despediu-se e foi para casa.
O Miguel viu-a sair, e deu tempo para ela se afastar um bocado, tinha que falar com ela, tinha que a ter de novo na sua vida, mas para isso tinha que lutar por o que tinha perdido, e tinha a certeza que não iria ser fácil, pagou e saiu.
O tempo tinha arrefecido e muito, a Margarida lá ia toda embrulhada no seu casaco, perdida nos seus pensamentos, não ouviu os passos que se aproximavam dela, sentiu uma mão, no seu ombro e assustou-se lançando um pequeno grito:
-Calma, Margarida, sou eu!
Oh Deus, aquela voz, não… como ia resistir, o que é que ele queria dela ao fim de tantos meses?
-Sshiu! Calma, eu não te faço mal, sou o Miguel, jamais te faria mal Margarida!
Margarida olha nos olhos dele, faz um gesto negativo com a cabeça e diz-lhe:
-Não me fazes mal Miguel? O que fizeste ao longo destes meses todos? Tu fazes ideia do mal que me fizeste?
-Desculpa, por favor desculpa-me, eu já me castiguei demais, tu não sabes as vezes que eu quis pegar no meu carro e vir ter contigo, tu não sabes as vezes que eu estive á porta de tua casa em Coimbra a apanhar coragem para falar contigo.
-E porque não falaste?
-Sempre que eu te via, tu estavas alegre, bem-disposta, tão diferente da Margarida que era ao meu lado, achei que se fosse falar contigo, tu me mandavas embora, estavas melhor sem mim!
-Só eu sei o que chorei! Cada dia que passava tu estavas cada vez mais entranhado no meu coração, claro que eu tentei de tudo para não cair em depressão, e agora que eu estou a melhorar, tu apareces! O que queres de mim?
-Primeiro, quero que me desculpes, do fundo do meu coração eu estou a ser sincero!
-Miguel, antes de continuarmos com isto, vamos fazer uma coisa,..
-Diz, eu faço tudo.
-É tarde, eu estou cansada, se quiseres encontramo-nos amanha e falamos, amanha tentamos arranjar uma solução, uma solução que seja boa para os dois. Pode ser assim?
-Pode, eu amanha á tarde não vou trabalhar, venho ter contigo depois de almoço. Está bem assim?
-Claro, pode ser assim, se quiseres passa por minha casa,…
-Eu ligo-te para combinarmos.
-Está bem! Até amanha Miguel.
Antes que a Margarida tivesse tempo de reagir, o Miguel puxou-lhe no braço e beijou-a.
-Boa noite Margarida!
Nessa noite mal dormiu, não sabia o que fazer á sua vida, continuava completamente apaixonada pelo Miguel, tê-lo de volta na sua vida era um sonho tornado realidade, mas ao mesmo tempo pensava no tormento que isso seria, se voltasse para ele, andaria de novo com a sensação de andar a pisar em cima de ovos, sempre com medo de partir algum. Estava mais dividida que nunca. Sabia que corria o risco, apesar de ainda ser muito nova, de não conseguir entregar-se a um novo amor, sem fazer comparações com o Miguel. Amanha era um novo dia, logo veria como resolver a situação, não valia a pena estar a amargurar-se durante a noite pois nesta altura tudo não passava de suposições, só quando estivessem frente a frente, só quando ouvisse a versão dele e o que ele quereria dela é que ponderaria qualquer decisão, não haveria acasos, teriam de ser firmes nas suas decisões, delas dependeriam o seu futuro. Margarida acabou por adormecer já a madrugada ia alta, os seus sonhos eram confusos, embora no meio dessa confusão estivesse sempre a certeza do seu amor pelo Miguel.
Depois do almoço o Miguel veio busca-la, haviam combinado assim quando ele lhe havia telefonado de manha.
Foram para um sítio sossegado, longe dos olhares de toda a gente, junto ao rio, sentaram-se, reinou o silêncio, só cortado pelo barulho da corrente do rio, ou por o coaxar de uma rã antes de se ouvir o splash ao saltar na agua.
-Margarida!
-Diz!
-Eu… não tenho desculpa para o que fiz, não sei porque o fiz, nem o que me levou a faze-lo, …
-Antes de continuares a falar, escuta-me. Miguel durante os quatro meses que tu me abandonaste, …(O Miguel olhou para ela surpreendido) – não olhes assim para mim, é verdade, tu abandonaste-me, tu nunca me disseste nada, simplesmente foste embora, abandonaste-me, e durante este tempo eu pensei muito, pensei em mim, pensei em ti, pensei em nós, mesmo já não sabendo se nós ainda existíamos, …
-Para mim nunca deixou de haver, olha - (mostrou-lhe o dedo onde ainda trazia a aliança) – tu tiraste a aliança, eu não, portanto eu sempre acreditei no nós.
-Acreditar não chega, é preciso querer, e muitas vezes eu me pergunto a mim mesma se tu queres, ou o que queres.
-Quero-te a ti!
-Mas não acreditas em mim!
-Acredito, só tenho ciúmes, muitos ciúmes de ti!
-Mas isso não é saudável, se os ciúmes nos prejudicam então temos de arranjar um meio-termo. Eu nunca te dei motivos para tu desconfiares de mim, eu sempre tentei agradar-te, eu lutei por o nosso namoro, tu limitaste a zangar-te sem motivos, e pior, viraste-me as costas sem nenhuma explicação, magoou-me demais.
-Eu sei, se eu pudesse voltar atrás no tempo não teria agido assim, teria feito tudo diferente, por favor dá-me mais uma oportunidade, deixa-me mostrar-te o quanto te amo.
-Não sei se deva, já não sei o que pensar, eu amo-te, amo-te muito, mas não quero que me magoes mais.
-Vamos começar de novo, ajuda-me a mudar!
-Ás vezes lembro-me das coisas que o Filipe me disse, sabes, ele disse-me que tu me havias de fazer sofrer muito, que eu iria sempre ficar com as migalhas do teu amor, que a tua família iria estar sempre em primeiro lugar, nessa parte eu não me queixo, sempre senti que tu não me trocas pela tua família, mas quanto á tua capacidade de me conseguires fazer feliz, aí eu já começo a pensar seriamente!
-Por favor, dá-me só mais uma oportunidade, se não der certo cada um segue o seu caminho, mas não custa nada tentar.
Miguel pega na mão da Margarida – Por favor, eu amo-te!
Olham-se nos olhos, aquele olhar que ela tão bem conhecia, estava tão dividida, não duvidava do amor dos dois, mas… não podia continuar, se cedesse mais uma vez perderia todo o respeito que ainda tinha por si, olhou o Miguel, precisava olha-lo mais uma vez, precisava reter aquele momento para sempre, sabia que muitos homens lhe poderiam aparecer na vida, mas nenhum nunca seria o Miguel.
-Não, não posso, desculpa!
Saiu a correr dali, fizera a coisa mais difícil da vida dela! As lágrimas teimaram em toldar-lhe os olhos, mas continuou em frente, se vacilasse, se olhasse para trás estaria perdida para sempre, ao longe ainda o ouvia a chama-la, queria correr para ele, mas… não… não…!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Capitulo III

CAPITULO III

No dia seguinte, estavam a Margarida e a Patrícia a fazer o almoço, quando o telefone tocou. A Margarida foi atender:
-Estou?
-Olá Margarida!
-Miguel? Que surpresa.
-Estás bem?
-Sim, e tu?
-Também!
Houve um silêncio, uma pausa prolongada, nenhum dos dois se atrevia a falar, não é que a Margarida não tivesse nada a dizer, mas estava decidida a deixar que fosse ele a tomar a iniciativa, embora para ela o facto de no dia a seguir ele já lha estar a telefonar poderia ser considerada uma vitória. Passado uns momentos o Miguel finalmente falou:
-Eu queria perguntar-te se… (pausa) … enfim… (nova pausa) … tu sabes!
-Sei o quê?
-Estás a dificultar-me as coisas!
-Não, não estou, simplesmente, estou á espera que tu me digas porque me telefonaste.
-Gostavas de ir beber o café comigo?
O Miguel falou muito rapidamente, quase não dava para se perceber o que ele estava a dizer, a Margarida sorriu e disse:
-Gostava muito sim, mas já sabes que eu não vou sozinha, a Patrícia está cá portanto vamos as duas.
-Não há problema nenhum!
-Miguel…
-Sim, diz!
-Obrigado por o convite!
-Obrigado por aceitares!
A Margarida desligou o telefone, e olhou para a Patrícia, que ao ver a expressão do rosto da prima, descobriu logo o que se tinha passado:
-Eu não acredito, ele telefonou-te?
-Pois telefonou, perguntou se íamos tomar café, eu disse-lhe que sim, depois vai lá ter connosco.
-Ai, acho que me vou sentir a mais.
-Priminha, não vais nada, sabes bem que o facto de o Miguel ir não quer dizer nada, continuamos a fazer a nossa vida normal.
-Está bem, a Sónia e a Mariana também lá devem ir ter connosco portanto já não vou servir de vela!
-Ah, ah, ah, que piada, - Margarida levanta os braços - faz cócegas, faz, para eu rir com vontade.
-Doida!
-Sou, mas tu gostas!
-Fim de conversa Margarida, hoje ninguém te vai aturar.
E continuaram as duas nos seus afazeres. Depois deste convite para o café outros se seguiram, a Margarida e o Miguel sempre que tinham hipótese, estavam juntos, e assim se passou uma semana, claro que ainda não se conheciam, nem estavam perto disso, tinham conversas interessantes, o Miguel era divertido, e a Margarida adorava brincar, fazia-o rir muito, acabaram por se tornar cúmplices em algumas partidas que faziam á Patrícia, era sempre ela a vítima, mas como também era muito divertida não se importava e ria com vontade. No fim-de-semana a seguir, no sábado á noite, estavam os dois sentados, no caneiro na praia fluvial, e conversavam animadamente, o assunto desta vez eram filmes:
-Eu gosto mesmo é de filmes de acção. – dizia o Miguel – gosto dos filmes onde entra o Jean-Claud Van Damme, Bruce Lee, Arnold (ver o nome depois), e tu?
-Discordo completamente do teu gosto, digamos que os meus gostos vão mais para filmes de comédia e romance, não perco um único filme do Pierce Brosman, e aí também vejo alguns de acção, quando ele é o 007!
-Qual é o teu filme preferido?
-Pergunta difícil… - A Margarida faz uma pequena pausa e pensa – não te vou dizer um filme só, não consigo, digamos que se calhar eu tenho vários filmes preferidos.
-Então diz lá!
-Quando tinha doze ou treze anos, foi o Top Gun, com Tom Cruise, acho que não havia uma única adolescente na época que não estivesse apaixonada por ele, vi, revi, tornei a ver, se calhar atrevo-me a dizer-te que foi o filme que eu já vi mais vezes na minha vida…
A Margarida não chegou a acabar de falar porque mesmo por trás deles um espertinho decidiu tomar banho á noite e atirou-se para dentro de agua, e molhou o rosto dela todo, embora estivesse calor, mas a Margarida apanhou um susto enorme quando sentiu que a molhavam. Levantou-se e sacudiu o cabelo, o Miguel levantou-se também, e sem falar nada, passou-lhe uma mão pelo rosto para lhe limpar a água que escorria dos cabelos, olharam-se e no momento seguinte, o Miguel foi-se aproximando da Margarida, e os seus lábios tocaram-se pela primeira vez, um beijo natural, inocente, sem promessas nem sonhos, um simples beijo no calor do momento.
Afastaram-se, olharam-se, não havia vergonha nos seus rostos, simplesmente havia uma cumplicidade que ao longo da semana foi crescendo, o beijo, foi um gesto natural.
-Desculpa – pediu o Miguel.
-Não acredito, tu estás a pedir-me desculpa? Porquê?
-Não estás zangada?
-Porque achas que eu ficaria zangada?
-Não sei, foi tudo tão repentino, o beijo naquele momento pareceu-me uma coisa natural, não pensei, simplesmente aconteceu!
-Miguel, ainda bem que foi natural, se eu não quisesse que te me beijasses simplesmente tinha impedido, mas isso não aconteceu…
O Miguel não deixou que a Margarida continuasse a falar, agarrou-a e tornou a beija-la, desta vez já com mais convicção, desta vez um beijo que já trazia promessas, que já tinha nele algo mais.
Margarida estava feliz, durante a semana tinha gostado imenso do tempo que tinha passado com o Miguel, claro que apesar de terem alguns desacordos, toda a gente tem gosto diferentes, e isso faz de nós seres únicos e originais, teriam que adaptar as diferenças para que não entrassem em conflito. O tempo foi passando e os sentimentos entre ambos cresceram, não de uma forma assustadora, muito lentamente. O mês de Agosto passou e foi substituído pelo de Setembro, nessa altura os pais da Margarida já desconfiavam que alguma coisa se andava a passar, e temeram que ela deixasse para trás os seus sonhos e objectivos. A mãe da Margarida decidiu confrontar a filha:
-Margarida, não tens nada para me contar?
A Margarida estava sentada no sofá a ler um livro e foi apanhada de surpresa pela pergunta da mãe.
-Mãe, podes ser mais objectiva na tua pergunta?
-Posso, quero saber o que se passa entre ti e o Miguel, o colega do teu pai!
-Ah, isso, como sabes?
-Margarida, ultimamente sempre que tens saído ele tem feito parte do vosso grupo, realmente foste muito esperta não fazendo perguntas ao teu pai, mas, quase de certeza que vocês têm alguma coisa.
-Olha mãe, muito sinceramente não temos nada, por enquanto, digamos que andamos em processo de conhecimento, gostamos da companhia um do outro, mas, ainda não tenho nada para te contar.
-Margarida, tu vais começar uma nova etapa da tua vida, convinha que não te distraísses agora com um namoro que pode deitar por terra todos os teus sonhos.
-Mãe, eu não sou parva a esse ponto, e depois eu já tenho 18 anos, já não sou uma adolescente que vai fazer uma tempestade num copo de agua se as coisas não derem certo.
-Margarida, olha que tu vais estragar a tua vida!
-Mãe, escuta, eu não namoro com o Miguel, se eu vier a namorar com ele, podes ter a certeza que tu e o pai vão ser os primeiros a saber, por enquanto, eu não te posso dizer mais nada, … oh mãe, … eu já não sou uma criancinha, eu estou a crescer, faz parte da vida, tu já tiveste a minha idade!
-Eu sei Margarida, mas naquela altura os tempos eram outros, eu não tinha as responsabilidades que tu tens, eu já trabalhava!
-Mãe, quantos anos tinhas quando começaste a namorar com o meu pai?
-Tinha dezoito anos, mas namorei com ele cinco anos.
-Eu tenho dezoito anos, o meu curso é de cinco anos, portanto ainda tenho muito tempo pela frente, para pensar no que fazer mais o Miguel, isto volto a dizer-te, se eu algum dia namorar com o Miguel.
Embora a mãe não tenha ficado muito convencida, deixou de fazer perguntas á Margarida, tinha que lhe dar um voto de confiança, afinal ela era a única filha que tinha, talvez por isso também não compreendesse que estava a pôr os seus sonhos altos demais. Até ao momento a Margarida nunca tinha dado grandes dores de cabeça aos pais, o grupo de amigos há muitos anos que era o mesmo, nunca lhes escondia onde ia nem com quem ia, sempre que havia algum problema ela tinha o à-vontade de falar com a mãe.
O tempo continuou a passar, a Margarida e o Miguel cada vez mais gostavam de estar um com o outro, nessa altura ela afastou-se um pouco dos amigos para estar mais com ele, mas era perfeitamente normal, trocavam uns beijos, davam as mãos, havia demonstrações de carinho, falavam, falavam muito, mas ainda nenhum se sentia preparado para assumir algo mais que uma amizade que estava a crescer, chamar-lhe amizade se calhar já seria pouco, mas nenhum dos dois se manifestou de outra forma, ate ao final do mês de Setembro. Nessa altura a Margarida soube que tinha entrado na Universidade de Coimbra no curso que tinha escolhido, ficou feliz da vida, telefonou logo ao Miguel a contar-lhe:
-Miguel, não vais acreditar!
-Então Margarida, porquê essa felicidade toda?
-Entrei no meu curso, … Miguel estou tão feliz!
-Parabéns Margarida, fico muito contente, muito contente mesmo por ti!
O Miguel não ficou assim tão contente como quis demonstrar, tinha-se apaixonado mesmo pela Margarida, e ela ir para Coimbra, significava menos tempo junto dela, significava que ela ia conhecer novas pessoas, e também podia significar que o Filipe iria muitas vezes ter com ela lá, e isso era impensável na cabeça do Miguel, tinha que haver uma forma de segurar a Margarida, tinha de pensar em algo.
A Margarida não tinha acesso a estes pensamentos do Miguel, ingenuamente achava que ele tinha ficado contente pela entrada dela na Universidade.
Nesse mesmo dia á noite a Margarida foi ter com ele como era o seu costume, achou-o um pouco calado:
-Passa-se alguma coisa?
-Não, porque dizes isso?
-Não sei, acho-te um pouco calado e estranho hoje!
-Deve ser impressão tua Margarida!
-Eu ainda não te conheço bem, mas… que estás esquisito, isso estás!
Inesperadamente o Miguel levanta-se, pega na mão da Margarida e diz-lhe:
-Vem comigo!
-Onde?
-Já vais ver!
De mão dada foram os dois ate junto do carro do Miguel. A Margarida começou a ficar assustada, pois não tinha dito nada aos pais :
-Miguel, onde vamos?
-Calma, Margarida, eu não te faço mal, parece que estás com medo de mim.
-Não, não é isso, só que eu quando vou para algum lado costumo avisar os meus pais e hoje não lhes disse nada.
-Mas nós não vamos a lado nenhum, vamos só ao meu carro!
Chegados ao carro, o Miguel abre a porta do lado do condutor e tira de lá uma rosa vermelha, linda que põe em frente do rosto da Margarida:
-Uma rosa, para a rosa mais linda que um dia apareceu na minha vida!
Margarida sorriu, olhou para o Miguel:
-Miguel é linda, obrigado! Porquê esta flor hoje?
-Margarida, pensei muito em como te dizer isto, pensei nos tempos antigos, e se calhar deveria estar de joelhos, mas… a rosa é vermelha, é sinal de amor, Margarida, eu amo-te, queres namorar comigo?
A Margarida que não estava nada á espera daquela declaração, ficou muda de espanto a olhar para o Miguel, da sua boca não saiu uma única palavra, estava feliz, o Miguel gostava dela, ela também gostava dele, mas mesmo assim apanhou-a de surpresa. O Miguel é que já estava a estranhar o seu silencio e começou a ficar inquieto.
-Margarida?
-Sim
-Margarida, mesmo que a tua resposta seja não, por favor diz-me alguma coisa, seja qual for a tua resposta, mas por favor fala!
-Sim, Miguel já te disse que sim, eu quero namorar contigo, eu também te amo, estes dias que temos passado juntos têm sido fantásticos, gosto de falar contigo, de estar do teu lado, gosto da nossa cumplicidade.
Abraçaram-se os dois. Na cabeça do Miguel o seu plano tinha dado resultado, ela já era sua, já ninguém lha tirava! O Miguel era louco pela Margarida, mas havia uma característica que ela ainda não conhecia dele, o ciúme, o Miguel era muito ciumento, ao contrário da Margarida, não era uma pessoa, com muita confiança em si, se ele tivesse confiança em si mesmo, percebia que a Margarida apesar de ser muito amiga do Filipe já havia abdicado da sua amizade, já se havia afastado um pouco do grupo de amigos para aproveitar todos os momentos que tinha com o Miguel, mas no meio da sua insegurança e egoísmo, e o Miguel nunca se apercebeu disso, ele queria a Margarida só isso lhe importava.
Claro que quando os pais da Margarida souberam, a mãe não ficou muito contente e disse isso mesmo á Margarida:
-Olha Margarida, eu acho que isto não era preciso, filha, tu em Coimbra podes conhecer outra pessoa, podes escolher alguém que seja como tu, já pensaste que amanha o Miguel pode-se sentir mal por tu seres formada e ele não?
-Mae, quantos obstáculo agora te deu para pores na minha vida, o Miguel pediu-me em namoro, não me pediu em casamento, quem te ouvir falar há-de pensar que eu abdiquei de tudo na minha vida para ficar com ele.
-Margarida, pensa bem no que eu te digo, tu vais estragar a tua vida por um impulso que estás a ter agora.
-Mae, eu não vou desistir da universidade, eu não lutei tanto para chegar aqui, para de um momento para o outro deixar escapar o meu futuro das mãos, por favor confia em mim, eu gosto do Miguel, mas ainda faltam anos para me casar.
-Mas o Miguel é diferente de ti, que futuro vês com ele?
-Mãe, que futuro vias tu com o meu pai? O que é que vocês são mais do que eu e o Miguel?
-Margarida, deus queira que tu nunca te arrependas do que estás a fazer e que não venhas por causa dele a estragar o teu futuro.
A mãe da Margarida deixou-a ficar sozinha. Margarida não entendia porque é que de um momento para o outro toda a gente estava a implicar com ela por causa do Miguel, o que estaria errado com eles? Será que se fosse outra pessoa os pais iriam reagir da mesma maneira? Será que ela estava errada? Nunca na vida lhe tinha passado pela cabeça deixar de estudar por causa do Miguel, nunca haviam falado disso, mas ele sempre a tinha apoiado, tinha ficado tão feliz por ela quando lhe contou que tinha entrado na faculdade, porquê? Tantas dúvidas e nenhuma resposta!
Em Outubro a Margarida regressou a Coimbra, onde passava a semana toda, vindo a casa só aos fins-de-semana, desde o inicio o Miguel sempre mostrou vontade de ser ele a ir buscar a Margarida á sexta-feira, claro que ela não se importava nada com isso, quanto mais cedo o visse, melhor, já chegava bem estarem separados os outros dias.
Num sábado de Outubro a Margarida sabendo que o Miguel ia estar ocupado a tarde toda a ajudar a mãe, combinou com a Sónia e com a Mariana para conversarem, á muito tempo que não saía com as amigas e já tinha saudades desses tempos. E assim encontraram-se como era costume delas no café junto á praia fluvial.
-Olá meninas? – Cumprimentou a Margarida
-Margarida, quanto tempo, pensava que já não tinhas tempo para nós! – disse a Sónia.
-Agora só pensa no amor dela! – Disse a Mariana.
-Nada disso. O Miguel não tem culpa nenhuma de nada, com a confusão de voltar para Coimbra e o stress da Universidade não tive muito tempo livre. – Respondeu a Margarida
-Onde anda ele hoje? – Perguntou a Mariana – até admira não estarem juntos.
-Hoje á tarde está ocupado, foi ajudar a mãe dele a fazer qualquer coisa e portanto não veio ter comigo, eu também não me incomodei muito porque tinha umas coisitas para estudar, e também queria estar com vocês como nos bons velhos tempos. Mas contêm-me lá as novidades! – Pediu a Margarida
-Eu já arranjei emprego! – Disse a Sónia.
-Que bom, quando começaste a trabalhar? – Perguntou a Margarida.
-No princípio do mês de Outubro! – Respondeu a Sónia.
-Bem, eu não sabia, estamos quase no fim do mês. – Disse a Margarida
-Andas perdida no teu mundo! – Disse a Mariana.
-Não sejas assim tão mazinha prima! - Disse a Margarida – e tu, como está a correr o segundo ano de enfermagem?
-Cada vez mais difícil, eu nem quero pensar para o próximo ano, ainda por cima com estágio e tudo. – Disse a Mariana.
-Algum caloiro giro? – Perguntou a Margarida.
-Por acaso até lá há um muito giro, é caloiro mas já é mais velho que eu, só que atrasou os estudos por causa de fazer a tropa e só este ano é que entrou.
Assim continuou a conversa, a Margarida nem deu pelo tempo passar, pois estava muito entusiasmada por estar com as amigas. Quando chegou a casa a mãe já lá estava, olhou para ela e estranhou estar sozinha, afinal desde que a Margarida começou a namorar com o Miguel eles andavam sempre juntos, para a mãe a Margarida mudou da noite para o dia, mas ela continuava atenta, uma vez que achava que a filha ainda não se tinha apercebido das alterações que a sua vida tinha sofrido.
-Vens sozinha? – Perguntou a mãe.
-Sim, porquê?
-O Miguel não foi ter contigo?
-Não mãe, estive até agora com a Mariana e a Sónia, como eu te tinha dito, e o Miguel não apareceu lá, alias nem sequer estava á espera que ele aparecesse, ele disse-me que ia estar a tarde toda ocupado a ajudar a mãe.
-A tarde toda não, desde as quatro horas que ele não faz outra coisa senão ligar aqui para casa á tua procura.
-Não lhe disseste para onde tinha ido?
-Disse! Agora a última vez que ele ligou eu disse-lhe que se te queria alguma coisa importante que fosse ter contigo, mais não podia fazer.
-Que estranho! Mas também não estou nada preocupada, estive toda a tarde onde te disse, e não tenho que lhe dar satisfações da minha vida.
-Pois, mas parece que ele não pensa assim!
-Então que comece a pensar, ele é só meu namorado, não é meu dono, e por enquanto as pessoas a quem eu tenho que dar satisfações ainda é a vocês. Vou tomar banho.
A Margarida ficou a pensar no que a mãe lhe tinha dito do Miguel, realmente estava a comportar-se de uma forma muito estranha, mas talvez fosse por namorarem ainda á tão pouco tempo, ou então por ela não o ter avisado que ia sair com as amigas, não ia estar a perder tempo com essas palermices.
Nesse dia depois do jantar o Miguel foi buscar a Margarida e ia com cara de poucos amigos:
-Olá Miguel. Estás cansado?
-Estou, fartei-me de trabalhar a tarde toda a ajudar a minha mãe!
-Podias ter dito, e não vinhas cá, assim descansavas mais umas horas.
-E tu o que ias fazer?
-Ficava em casa, ou então ia sair com a Sónia e a Mariana, há tanto tempo que não estou com elas…
O Miguel nem deixou a Margarida acabar de falar e disse:
-Não me digas que não estás com elas assim há tanto tempo.
-Miguel, estive esta tarde com elas no café, e tu sabes bem, afinal fartaste-te de ligar para minha casa á minha procura, se estavas com tanta pressa para me encontrar tinhas ido ter comigo, a minha mãe disse-te onde estava.
-Tive medo daquilo que podia encontrar.
-Não entendi Miguel, desculpa, devo estar lenta!
-Será que estavas mesmo com elas? Ou será que foste matar saudades do teu amigo Filipe?
Para a Margarida naquele momento teria sido mais fácil se o Miguel lhe tivesse dado uma bofetada, estava a desconfiar dela, da sua palavra, ela que já tinha alterado tantas coisas na sua vida para estar com ele, não estava tanto com as amigas como gostava, afastara-se mesmo do Filipe para não haver confusões e o Miguel mesmo assim desconfiava dela? Não, não podia ser, aquele não era o Miguel que ela conhecia… ou será que conhecia mesmo?
-Miguel, eu não acredito, tu não disseste isso pois não? Tu desconfias de mim?
-Desculpa Margarida, eu falei sem pensar, claro que eu não desconfio de ti, se desconfiasse não estava agora aqui contigo.
-Espero que isto não volte a acontecer, foi muito desagradável!
-Margarida, eu gosto tanto de ti, amo-te tanto, não te quero perder!
-Eu também te amo muito! Vamos esquecer o que aconteceu, amo-te, amo-te, amo-te!
-Minha Margarida! Tu és linda!
O tempo continuou, a Margarida andava contente e feliz, adorava o curso dela, e tinha colegas muito interessantes, embora mal tivesse tempo para conviver com eles, uma vez que o Miguel sempre que podia ia ter com ela a Coimbra depois do trabalho, e quando isso não acontecia ela tinha que estar em casa, porque nunca sabia a hora a que ele ligava. Mesmo assim a Margarida achava que era normal, que fazia parte do namoro, sentia-se bem pela atenção que o Miguel lhe dedicava, nunca a trocava pela mãe ou pela família, ela estava sempre em primeiro lugar na vida dele, afinal o Filipe estava errado. A Margarida sentia saudades das longas conversas e dos programas que fazia com o Filipe, mas o Miguel era o seu futuro, era dele que gostava.
À medida que o tempo passava e nos aproximávamos do Natal começava a ser mais difícil para a Margarida vir passar os fins-de-semana a casa, uma vez que tinha imensas coisas para estudar, trabalhos e pesquisas para fazer, era-lhe mais fácil ficar em Coimbra onde tinha bibliotecas e outro género de coisas que na sua pequena vila ainda não existiam.
Ao princípio o Miguel deixava-lhe os sábados para ela estudar para que no domingo pudessem estar o dia todo juntos, davam longos passeios pela cidade, às vezes iam até á Figueira para junto do mar, ora precisamente num desses domingos de Novembro, o céu estava limpo, e decidiram ir passar o dia à Figueira, saíram de manha por volta das nove horas, foram pela Serra da Boa Viagem, paravam de vez em quando para andar um pouco a pé, riam, riam muito, os beijos eram uma constante entre os dois e as demonstrações de carinho também. Chegou a hora do almoço e foram os dois a um pequeno restaurante, muito acolhedor que ambos já conheciam.
-Estás a gostar? – Perguntou o Miguel
-Muito! Estava mesmo a precisar disto, ando tão atarefada com os estudos, que estes dias, quando vens ter comigo são uma dádiva de Deus.
-Adorava estar os dias todos contigo!
-Eu também, amo-te tanto, tu nem imaginas!
-Imagino sim, eu amo-te ainda mais! Quantos anos demoras a acabar o teu curso?
-Quatro anos, porque perguntas?
-Tanto tempo ainda para estar sem ti!
-Mas tu não estás sem mim, estamos quase sempre juntos, vens tantas vezes ter comigo a Coimbra, passamos a maior parte do fim-de-semana juntos, quase só falta mesmo casar.
-É precisamente isso que eu quero, casar-me contigo!
-Mas ainda não namoramos á muito tempo, e depois eu não tenho emprego, ainda estou a acabar o meu curso, quer dizer, estou a começar, tenho mais três anos pela frente, …
-Mas eu quero tanto estar contigo, casa-te comigo!
-Eu caso, mas agora ainda não, ainda namoramos á pouco tempo, não nos conhecemos o suficiente ainda para podermos dispor de uma vida a dois, e depois, Miguel, eu ainda não me sinto preparada, só tenho 18 anos, temos de esperar um pouco mais.
-Eu não preciso de te conhecer melhor, eu sei que tu és a mulher da minha vida, não vou olhar para mais nenhuma, é a ti que eu quero!
A Margarida, ficou a olhar para o Miguel, mas nem por um momento vacilou, queria acabar o curso dela, queria dar aulas, queria realizar os seus sonhos, embora claro, que entre os seus sonhos estava casar com o Miguel, mas ainda não se sentia preparada, nem ela nem os pais que não iriam achar muita graça á questão.
Saíram do restaurante, e foram passear á beira-mar, as ondas vinham beijar os pés descalços de ambos, que passeavam juntos de mãos dadas, ao longe só se ouvia os gritos das gaivotas, voavam em círculos, mergulhando nas calmas águas do oceano, em busca de alimento. O Sol parecia um morango, ia descendo lentamente passando para a água as suas tonalidades de vermelho, laranja e amarelo, dando a tudo um ambiente mágico, um ambiente propicio ao romance. Sentaram-se numa duna, um pouco escondida por umas rochas, o Miguel puxou a Margarida para junto de si e começou a beija-la, os beijos começaram a tornar-se mais intensos, e as mãos começaram a ser mais exigentes, procurando aqueles recantos escondidos…
-Tens uma pele tão macia, Margarida, eu amo-te tanto!
-Miguel, eu acho que devíamos ir embora!
-Porquê Margarida? Estás com medo de mim?
-Não é isso Miguel, é a primeira vez que estou assim com alguém!
-Estás a querer-me dizer que és virgem?
-Estou, Miguel nunca nenhum homem me tocou antes!
-Não acredito, o que é que o Filipe vinha fazer quando vinha ter contigo a Coimbra? Estás a dizer-me que não ias para a cama com ele. Como se eu fosse acreditar nisso.
Margarida levantou-se de repente, e começou a correr pela praia, com as lágrimas a escorrerem-lhe pelas faces. Como é que o Miguel a podia magoar tanto? Como é que ela se tinha enganado tanto com ele? Será que a mãe e as outras pessoas que a avisaram em relação e ele estavam certas? Será que ela estava tão cega de amor que não via mais nada á frente senão o Miguel? Até onde mais baixaria a sua vida? Há tanto tempo que não estava com as amigas só para estar com ele, estava a estudar na mesma cidade que a Mariana e já nem aos fins-de-semana se encontrava com ela porque ele vinha ter com ela, de quem mais teria que se afastar? O que mais poderia fazer para que ele acreditasse nela? Correu, correu, correu, só queria ir para longe. O sol já tinha desaparecido completamente e as sombras da noite começavam a aparecer, parou, não sabia onde estava, estava sozinha disso tinha a certeza, não sabia como ia voltar para Coimbra, mas isso não a preocupou, agora precisava mesmo era de pôr as suas ideias em ordem, agora precisava de pensar, precisava saber o que ia fazer com o Miguel. Sentou-se o silencio envolveu-a, perdeu-se nos seus pensamentos.
Não sabia há quanto tempo estava ali, a noite já tinha caído completamente. De repente sentiu uma mão no seu ombro, mesmo sem se virar ela soube quem era, não olhou para ele, não lhe disse uma palavra, ele sentou-se junto dela, passou-lhe uma mão pelos ombros e abraçou-a com força.
-Desculpa Margarida!
-Quantas vezes vou ter que te desculpar por me magoares tanto? Será que eu mereço isto?
-Não, Margarida, não mereces, eu não te mereço a ti, tu não mereces este meu ciúme doentio, mereces uma pessoa que te compreenda, que te aceite como tu és, acho que eu não sou esse homem, sou ciumento demais, quero demais de ti, e sinceramente não estou a ver que algum dos dois queira mudar.
Surpreendida a Margarida olhou para ele, as lágrimas voltaram novamente a inundar-lhe os olhos, não queria acreditar nas palavras que estava a ouvir da boca do Miguel.
-Estás a dizer-me que queres acabar o namoro?
-É melhor, senão eu vou andar sempre a magoar-te, o que eu sinto por ti é superior a mim, eu tenho ciúmes mesmo das palavras que tu diriges às tuas colegas e amigas, eu quero ser o teu mundo.
-Miguel, será que tu ainda não viste que és o meu mundo? A única coisa que eu faço em Coimbra é ir às aulas, de resto venho para casa ou então vou sair contigo quando vens cá ter comigo!
-Eu amo-te tanto Margarida!
-Eu também te amo Miguel, mas para te demonstra-lo não preciso andar sempre a saber o que andas a fazer, eu confio em ti, mas sinto que tu não confias em mim!
-Eu vou mudar, juro que vou mudar, beija-me por favor, diz-me que me perdoas, diz-me que me amas.
-Eu amo-te Miguel, e não há nada para te perdoar, é o teu feitio, e eu tenho que saber conviver com ele.
Miguel, puxou a Margarida para o seu colo, não se lembrara sequer que estava numa praia, começou a beija-la, os beijos tornaram-se mais exigentes, as mãos cada vez mais exploradoras, as suas respirações tornaram-se ofegantes, lentamente ele começou a desapertar o casaco da Margarida, que tremeu ao sentir as mãos do Miguel a percorrerem a pele em volta dos seus seios, com muita meiguice o Miguel tirou-lhe a camisola e deitou-a sobre a areia, enquanto ele próprio tirava o seu casaco e a sua camisola, queria sentir a pele da Margarida junto á sua, enquanto a beijava, acariciava os seus seios com muita meiguice, dando á Margarida tempo para se habituar a essas carícias, Deus como amava esta mulher, quando já não aguentou mais, despiu as calças dela, a Margarida já nem dava por nada, estava completamente embriagada pela paixão, só se apercebeu quando ele sussurrou ao seu ouvido:
-Vou ser meigo contigo, muito meigo, se te magoar por favor avisa-me que eu paro.
-Não quero que pares Miguel, eu quero que a minha primeira vez seja contigo, é a ti que eu amo.
Eram as palavras que o Miguel queria ouvir, sem deixar de beijar a Margarida explorou o sempre da sua feminilidade provocando nela ondas de prazer que ela jamais imaginou que existiam, quando a sentiu pronta fez pressão sobre ela, e sentiu a pequena barreira que provava que ela não o enganou ao dizer-lhe que era virgem. Margarida gemeu.
-Queres que pare meu amor? Estou a magoar-te?
-Não, não pares!
E o Miguel assim fez, e de um momento para o outro a barreira que o separa do prazer total, a barreira que o separava de fazer a Margarida sua derrubou-se, ele intensificou os movimentos, tendo o cuidado de proporcionar á Margarida tanto prazer como ele estava a ter, foi muito cuidadoso, sussurrou-lhe sempre ao ouvido palavras de amor, palavras de carinho, porque apesar do seu feitio ele gostava mesmo dela.
-Estás bem Margarida?
-Estou óptima! Nunca pensei que fosse assim, ou então foi mesmo especial porque foi contigo!
-Amo-te!
-Também te amo muito!
-É melhor irmos embora já deve ser muito tarde!
-Sim, nem imagino que horas são, mas também já deve ser muito tarde para ires para casa, porque não ficas comigo em Coimbra?
-Quando chegarmos a tua casa logo vimos o que fazer.
A partir desse momento foram mais as noites que o Miguel dormiu na cama da Margarida, que as que dormia em casa dos pais, já não conseguia imaginar-se sem acordar ao lado dela, ela enfeitiçara-o completamente. Tinha que a tirar de Coimbra e faze-la ver que o casamento era a melhor opção para os dois.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Capitulo II

A partir de agora cou pôr o livro por capitulos é mais façil!!! podem dar opinioes e criticarem o que acharem que está mal!!!


CAPITULO II


Nos meses de verão esta pacata vila perdida entre as serras, situada num vale, enche-se de turistas e filhos da terra que vivem em Lisboa ou noutros pontos do país e ali regressam para descansar da agitada vida da cidade.
No sábado seguinte precisamente, chega a Patrícia, prima da Margarida e da Mariana, que vivia em Lisboa. Entre a Margarida e a Patrícia sempre existiu uma grande cumplicidade, para a Margarida a Patrícia é a irmã que ela não tem, uma vez que a Margarida passou grande parte da sua infância a ir para Lisboa para casa dos pais da Patrícia com os avós, assim foram crescendo juntas, e crescendo entre elas uma cumplicidade muito grande, não têm segredos uma para a outra. Nas quentes noites de verão quando o calor ainda aperta e não conseguem dormir, sentam-se as duas na varanda em casa da Margarida e têm longas conversas, ouvem música, riem, acima de tudo riem muito, porque a boa disposição é uma constante.
A Margarida ainda não tinha falado do Miguel á Patrícia porque, alem de ser uma coisa ainda recente, ela vinha passar ferias com os pais e aí teria tempo para contar á prima o que se estava a passar.
Nesse sábado depois do almoço como era hábito entre as duas, ajudaram a mãe da Patrícia a arrumar a cozinha e depois saíram já de fatos de banho e toalhas ao ombro para irem para o rio, juntar-se com o resto do pessoal.
Estava uma tarde muito quente, e pelo caminho a Margarida lá foi pondo a Patrícia a par de tudo o que se estava a passar:
-Sabes, ando de olho num rapaz, que trabalha ao pé do meu pai, chama-se Miguel e tem vinte e dois anos – disse a Margarida.
-E ainda não me tinhas dito nada? – Perguntou a Patrícia, um pouco espantada com a atitude da prima.
-Calma, não estejas a pensar que eu tenho segredos contigo – disse a Margarida, pondo o braço em volta dos ombros da Patrícia – eu ainda não te tinha dito nada, porque além de não terem passado ainda de uns simples telefonemas e de umas trocas de olhares, como tu chegavas hoje, achei que tínhamos tempo de pôr a conversa em dia.
-Ah, fico mais descansada, pensei que agora tinhas segredos para mim – disse a Patrícia – mas anda lá conta-me tudo.
E assim a Margarida contou á Patrícia o que se tinha passado.
-Bem, tu és doidinha de todo! – Disse a Patrícia – tu já viste bem o quanto arriscaste ao ligar para lá, mesmo sabendo que alguém que conhecesse a tua voz podia contar ao teu pai.
-Calma – disse a Margarida – também não é bem assim, eu telefonei sempre quando o meu pai não estava, á hora do almoço quando ele lá estava sozinho, o único dia em que arrisquei foi na quarta, eu sabia que o meu pai vinha almoçar a casa, e portanto fiz um bocado de lotaria rezando para o meu pai já lá não estar e que entretanto também não chegasse a casa e me apanhasse ao telefone com ele.
-Tu quando metes uma coisa na tua cabeça, tens mesmo que ir até ao fim – disse a Patrícia – mas isso também não me surpreende, uma vez que eu sei que tens que conseguir tudo o que queres.
-O que me preocupa no meio disto tudo, foi a reacção do Filipe quando soube – disse a Margarida
-A mim não me surpreende nada, o Filipe, sentiu-se ferido, sabes bem que ele á muito tempo que tenta convencer-te a serem mais que amigos, e agora vem uma pessoa de fora, que por azar até é irmão de uma ex namorada dele, e consegue despertar a tua atenção, claro que ele ficou sentido. – Disse a Patrícia.
-Mas o Filipe sabia desde sempre que eu não sentia por ele nada além de amizade, e sinceramente Patrícia, não me apetece nada estragar esta amizade, metendo pelo meio um namoro que não vai dar em nada, eu sei que não vai dar. – Disse a Margarida.
-Mas ele não pensa assim, e sinceramente, eu acho que se tu continuares com a ideia de conhecer mesmo o Miguel o Filipe vai-se afastar de ti. – Disse a Patrícia
-Essa ideia não me agrada muito, mas eu não vou poder ficar toda a minha vida á espera que um dia acorde e descubra que finalmente me apaixonei pelo Filipe, eu acho que isso não vai acontecer, eu gosto dele, mas não dessa forma. – Disse a Margarida.
-Mas ele não quer ver isso, e lá no fundo eu acho que ele está a torcer para que tu esqueças o Miguel, ou que as coisas não dêem em nada. – Disse a Patrícia.
-Não vai ter sorte, se tiver que perder a amizade dele, e olha que é uma coisa que me vai custar muito, acredita, eu perco, eu não vou fazer a minha vida em função dos sentimentos do Filipe, não nesse sentido. – Disse a Margarida.
-Pode ser que entretanto ele encontre uma namorada, e deixe de andar atrás de ti. – Disse a Patrícia.
-Espero que sim, para minha felicidade e para a dele. – Disse a Margarida – vamos continuar esta conversa depois mais logo, quando estivermos as duas sozinhas, agora está aqui toda a gente.
-Concordo contigo priminha! – Disse a Patrícia.
Lá chegaram junto do grupo de amigos, sentaram-se a fazer hora para poderem ir ao banho e divertiram-se a tarde toda.
Á noite depois de chegarem a casa, foram as duas lavar os dentes e vestir os pijamas e como era seu costume, foram-se sentar-se na varanda a conversar.
-Sabes, amanha vou telefonar para casa do Miguel. – Disse a Margarida.
-Que lata a tua, - disse a Patrícia espantada a olhar para a prima – e o que lhe vais dizer?
-Se é amanha á noite que ele quer vir tomar a famoso café que me prometeu. – Disse a Margarida.
-Margarida, porque é que tu não esperas mais uma semana, continuas durante os próximos dias a ligar-lhe para o trabalho e logo vês no que vai dar? – Perguntou a Patrícia.
-Nem penses Patrícia, não vou estar á espera mais uma semana, amanha vou-lhe telefonar. – Disse a Margarida.
-E como é que vais ligar amanha? Já pensaste? Vamos todos almoçar aqui em casa, se os teus pais não ouvirem a conversa podem ouvir os meus, ou então os avós e depois? – Perguntou a Patrícia.
-Não vai ligar aqui de casa, achas? – Disse a Margarida
-Já não digo nada, de ti espero tudo! – Disse a Patrícia.
-Nada disso, se estiverem aqui todos, podemos ir a casa dos avós quando viermos do rio, senão, vamos jogar snooker ao Pub, e eu ligo de lá, tem que ser é antes de jantar, para eu poder combinar com ele para depois do jantar. – Disse a Margarida
-Tens tudo bem planeado, mas isso já nem me devia admirar. – Disse a Patrícia.
-Estou ansiosa que chegue amanha, acho que nem vou conseguir dormir. – Disse a Margarida.
-Eu só tenho medo que tu te desiludas, tu não o conheces ainda, por isso havias de ir com mais calma. – Disse a Patrícia.
-Fogo priminha, dá-me tu uma força, eu quero conhece-lo, gostei dele a primeira vez que o vi, não sei o que foi, mas, gostei dele, houve algo nele que despertou em mim, esta vontade, e como eu já disse tenho que ir até ao fim. – Disse a Margarida.
-Eu não te estou a dizer para parares, estou a pedir-te para ires com calma, este ano vais ter muitas mudanças na tua vida, sabes, vais deixar o mundo protegido do colégio onde tens andado, vais conhecer novas pessoas, vais fazer novos amigos, vais para um ritmo de estudo que cada vez mais começa a ser o futuro da tua vida, não tenhas pressa! – Disse a Patrícia.
A Patrícia sempre foi a mais sensata das duas, pensava muito bem nas coisas antes de agir, ao contrário da Margarida que lutava por o que queria, mas a maior parte das vezes agia impulsivamente, o seu maior receio era que a prima se magoasse de alguma forma. Uma vez que não conhecia o Miguel ainda não tinha uma ideia formada dele, teria que esperar para ver o que aconteceria no dia seguinte.
Tal como a Patrícia dissera, no dia seguinte foi a família toda para casa dos pais da Margarida, portanto teriam que pôr em prática um dos planos dela, e isso não era difícil, uma vez que elas costumavam sair depois do almoço para irem para o rio, e costumavam ir para o Pub jogar snooker, qualquer uma das ideias dava para se concretizar.
Assim á tarde depois de virem do rio, foram a casa tomar um duche e mudar de roupa e foram á vila, pelo caminho iam a conversar:
-Então, onde vais telefonar-lhe? – Perguntou a Patrícia
-Como ainda é cedo, vamos jogar uma partidita de snooker e eu ligo de lá. – Respondeu a Margarida.
-Mas, uma coisa que me tem feito confusão, se tu ainda só falaste com ele no trabalho, como é que tens o numero dele de casa? – Perguntou a Patrícia
-Foi fácil, aqui há dias quando eu disse ao meu pai que tinha ligado para o trabalho á procura dele, e que foi o Miguel que atendeu, o meu pai disse á minha mãe de quem ele é filho, eu fui á lista telefónica e descobri o número. – Disse a Margarida.
-Tu não perdes mesmo tempo, às vezes até tenho medo das tuas ideias. – Riu-se a Patrícia.
Lá foram, as duas, ate ao Pub e começaram por jogar snooker, ate a Margarida apanhar coragem para ligar ao Miguel.
-Então Margarida, nunca mais decides telefonar?
-Vou ligar agora, deixa o Victor vir aqui para eu lhe pedir.
A Margarida lá chamou o Victor e pediu-lhe para a deixar fazer um telefonema. Ligou e do outro lado respondeu uma voz que ela tão bem conhecia:
-Estou?
-Miguel, és tu?
-Sim, quem fala?
-A Margarida!
Do outro lado fez-se silencio, e por momentos a Margarida pensou que o Miguel tinha desligado o telefone:
-Ainda aí estás? – Perguntou a Margarida.
-Sim, desculpa o meu silêncio, mas tenho a minha casa cheia de gente, e estão todos a olhar para mim…
-Ah, peço desculpa, não sabia que era má hora para te ligar.
-Não é má hora, só que logo hoje tinham que cá estar os meus irmãos todos e o meu pai, estão todos para aqui a gozar comigo.
-Desculpa!
-Mas, o que me querias?
-Convidar-te para vires tomar um café comigo, ou se não beberes café, outra coisa qualquer.
Do outro lado da linha o Miguel riu-se e não disse nada. A Margarida continuou a insistir:
-Vá lá Miguel, vem cá ter comigo depois do jantar!
-Não sei, o meu pai pode precisar do carro.
-Isso para mim são desculpas, não precisas de ser tão tímido!
-Não é isso, a sério, Margarida, como o meu pai está em casa, ele pode precisar de sair para algum lado.
-Está bem, que pena, gostava mesmo de falar contigo!
-Eu também!
-Não parece nada, se quisesses muito arranjavas uma forma de vir ter comigo!
-Margarida, estou a falar a sério, eu não sei se o meu pai vai ou não precisar do carro…
-Mas se o teu pai está aí bem que podias perguntar-lhe, não achas?
-E dar mais motivo aos meus irmãos para gozarem comigo!
-Como assim? Não entendi!
-Estão aqui todos a perguntar quem será a pessoa com quem estou a falar, depois comentam entre eles que eu tenho uma namorada e não digo a ninguém, enfim, até os meus pais estão a entrar na brincadeira.
-Então dá-lhes mais um motivo, e vem ter comigo, vá lá, eu não mordo!
-Eu sei que não mordes, e também quero muito falar contigo, mas como eu já te disse, não depende só de mim!
-Desculpas de mau pagador!
-Oh, não digas isso Margarida!
Sem que a Margarida estivesse a contar, a Patrícia vem por trás da prima e tira-lhe o telefone da mão e diz:
-Olha, desculpa, eu não te conheço, tu também não me conheces, mas estou farta de ouvir a Margarida a pedir para vires ter com ela, ou vens cá ter depois do jantar por volta das nove horas, ou então meu amigo, esquece, quem não a deixa falar mais contigo sou!
Dito isto a Patrícia desligou o telefone.
-Agora Margarida, vamos ver se ele quer mesmo vir tomar o café contigo!
-Patrícia, tu não devias ter feito isso, claro que ele não vem, tu já viste como falaste com ele?
-Não quero nem saber, e depois logo às nove horas já vais ter a tua certeza, eu só fiz aquilo que eu acho que deveria ter feito. Se achas que fiz mal, desculpa, mas não quero ver-te a fazer figura de parva.
A Margarida não soube o que dizer á prima, claro que ela compreendia o que a Patrícia fizera, mas… também não precisava ser tão dura com o Miguel, agora o que lhe restava fazer era esperar pelas nove horas e ver se o Miguel aparecia ou não.
Estava quase na hora do jantar e as duas foram para casa da Margarida, onde já estava a restante família.
Eram quase nove horas quando acabaram de jantar, e a Margarida não fazia outra coisa senão olhar para o relógio, parecia que as horas não passavam, o jantar parecia interminável, ela só queria mesmo que tudo acabasse rapidamente e que ela e a Patrícia finalmente pudessem ir embora.
Já passava um quarto de hora das nove quando as duas finalmente puderam sair. A Margarida estava muito nervosa:
-E se ele não veio?
-Calma Margarida – dizia a Patrícia – tens tempo de te preocupar com isso quando chegarmos.
-Mas já viste as horas? Ele também pode ter vindo e já ter ido embora! Ai Patrícia!
-Margarida, tem calma, já te vais preocupar com isso, tem calma por favor!
Lá foram as duas para ver onde estava o resto do grupo de amigos, a Margarida só pensava no Miguel, só esperava que a Patrícia não tivesse estragado tudo, tudo quer dizer, no fundo ainda não havia nada para estragar, a Margarida ainda não tinha reparado que o Miguel se havia tornado de um momento para o outro num desafio, numa obsessão para ela, afinal com toda a gente quase a dizer-lhe que não devia apostar nele, ela queria ir contra as regras pelo menos uma vez na vida e acima de tudo também queria mostrar ao Filipe que ele estava errado, se calhar já era mais uma questão de orgulho que outra coisa qualquer.
Margarida, perdida nos seus pensamentos, nem se apercebeu que ao longe uns lindos olhos castanhos estavam fixos nela, no seu pensamento já só passavam ideias de como voltar a falar com o Miguel, mas ainda nenhuma ideia lhe tinha parecido razoável.
-Boa-noite Margarida!
Não, não, estava a sonhar, ia tão entretida a pensar no Miguel que agora até já ouvia a voz dele, claro que só podia ser imaginação dela. Virou-se lentamente, e depara-se com o Miguel, a sorrir e a Olhar para ela, … ele sempre viera.
-Estás bem? – Perguntou o Miguel.
-Tu vieste? – Incrédula a Margarida olhava para o Miguel.
-Sim, vim, eu disse-te que gostava de te conhecer melhor também!
Margarida sorriu, nunca na sua vida se sentira tão feliz como naquele dia, ele estava ali, ele queria conhece-la, ele era real, não um fruto da sua imaginação, queria poder gritar, rir, chorar, mas tudo de alegria, estava alegre, a vida é linda, a vida é bela… de tal forma estava delirante que nem ouvia nada do que o Miguel lhe estava a dizer:
-Margarida, tu estás a ouvir o que eu te estou a dizer? – Perguntou o Miguel.
-Desculpa, não, não ouvi nada do que tu disseste.
-Estava a perguntar-te onde vamos?
-Ah, vamos ali beber um café, e depois vamos dar uma volta. Mas antes disso deixa-me apresentar-te a minha prima Patrícia, este é o famoso Miguel de quem tanto tens ouvido falar.
-Não me digas que foste tu que me fizeste o ultimato ao telefone. – Perguntou o Miguel.
-É verdade, fui eu mesma, mas pelos vistos deu resultado, e aqui estás tu! – Disse a Patrícia
-Como é que apanhaste coragem para pedir o carro ao teu pai? – Perguntou a Margarida.
-Não precisei pedir, ele próprio me perguntou se eu precisava dele! – Respondeu o Miguel.
A Margarida e a Patrícia riram-se da resposta do Miguel.
-Que sorte, … - Disse a Margarida – para mim claro!
Lá foram os três ao café, onde estava o resto do grupo. A Margarida fez as apresentações, toda a gente recebeu bem o Miguel, excepto claro, o Filipe, que quando o viu com a Margarida nem queria acreditar e de uma forma muito sarcástica disse:
-Vejo que não perdeste tempo Margarida, trouxeste-o para aqui só para me provocar.
-Filipe, não sejas tão convencido, não penses que a vida gira toda em redor de ti! – Disse a Mariana.
-Porque motivo estás agora tu a provocar a Margarida? – Perguntou a Sónia.
-Filipe, não te metas, já deste a tua opinião, a Margarida faz da vida dela o que bem entender, se ela se der mal o problema é dela. – Disse a Patrícia.
-Se ela se der mal, cá estou para ouvir as magoas dela, cá estou eu para a levantar, para isso o Filipe serve. – Disse o Filipe
-Filipe, uma amizade desinteressada não pede nem exige nada em troca, eu não tenho que estar aqui a ouvir tudo o que tu queres dizer, mas está descansado, que se o meu coração se partir em bocadinhos, tu serás a ultima pessoa que eu irei procurar para os colar. – Disse a Margarida – desculpa eu falar contigo assim, mas, já chega!
O Miguel não gostava do Filipe, puxou o braço da Margarida e levou-a para outra mesa, sentaram-se e o Miguel perguntou-lhe:
-O que se passou ali que eu não percebi nada?
-Simples, o Filipe é um dos meus melhores amigos, e julga que está apaixonado por mim, eu acho que ele está confundir amizade com amor, não sei, e depois as coisas complicaram-se quando ele descobriu que eu te queria conhecer, nunca mais foi o mesmo.
-O Filipe namorou durante alguns anos com a minha irmã Carina, sinceramente eu não sei o que se passou entre eles, mas a minha irmã ficou desfeita, andou muito tempo a chorar pelos cantos, desde aí nunca mais gostei dele.
-Claro, eu compreendo a tua situação, mas eu não quero que isso interfira connosco.
-Isso não vai acontecer, eu sei distinguir as coisas!
-Trabalhas há muito tempo ao pé do meu pai?
-Mais ou menos há cinco meses.
-Que engraçado, não sabia, acho que o meu pai nunca comentou nada lá em casa, ou pelo menos eu nunca me apercebi, só agora que estou de ferias é que te vi, e enfim, o resto tu já sabes, …
-As artimanhas para falar comigo!
-É verdade, espero que não fiques a pensar mal de mim…
-Não, eu só construo uma ideia das pessoas depois de as conhecer, e portanto tu não vais ser excepção.
-Que pena, …
-Porque?
-Porque gostava de ser a excepção á regra!
-Engraçadinha, já vi que gostas de brincar!
-Adoro, é verdade, tristezas não pagam dividas, e eu só tenho uma vida para viver portanto tenho que a aproveitar ao máximo, …
-Não tens medo de pensar dessa maneira?
-O que tem a minha maneira de pensar?
-Como vives numa terra pequena, tudo se sabe, as pessoas gostam de falar…
-O que as pessoas dizem a mim não me incomoda nada mesmo, nunca perdi o sono por isso, e depois também tenho a vantagem de só cá vir aos fins-de-semana e durante as ferias.
-Há muito tempo que estudas em Coimbra?
-Sim, desde o sétimo ano, portanto terminei agora o décimo segundo ano, fiz os exames de acesso á universidade e ainda não sei de entrei.
-Concorreste para que?
-Línguas, gostava de ser professora de Português e Francês.
-Os teus pais vão ficar todos contentes se entrares!
-Claro que sim, eles só me têm a mim, e claro que o maior sonho deles é que eu consiga realizar na minha vida, aquilo que eles não tiveram hipótese de realizar na deles.
-Os filhos não têm que obrigatoriamente continuar os sonhos dos pais, já pensaste nisso?
-Eu não estou a dizer que vou realizar os sonhos dos meus pais, não vou tirar o curso de línguas a pensar que a minha mãe ou o meu pai gostariam de ser professores, eu vou tirar o curso de línguas porque gosto.
-Que mais gostas de fazer?
-Escrever, adoro escrever, tenho cadernos e cadernos cheios de poesias e prosas que vou escrevendo quando me vem a inspiração.
-És sonhadora, estou a ver.
-Sou sonhadora, mas acima de tudo com os pés bem assentes na terra, gosto de lutar pelos meus objectivos e conclui-los.
-Não queres ir dar uma voltinha?
-Sim, vamos até ao caneiro, deixa-me só perguntar se querem vir!
A Margarida foi ter com o grupo para fazer o convite, aceitaram de imediato, mas deixaram a Margarida e o Miguel irem um pouco mais á frente, para ter privacidade.
Pelo caminho foram conversando, falaram de várias coisas, a Margarida estava cada vez mais fascinada com o Miguel, tinham algumas coisas em comum, outras menos. Falaram deles, das famílias, dos seus hobbies, do trabalho do Miguel, dos estudos da Margarida.
A noite chegou ao fim, despediram-se sem compromissos, simplesmente como duas pessoas que se conheceram e ainda têm um longo caminho a percorrer.
-Ate amanha – disse o Miguel
-Até amanha – disse a Margarida – obrigado por teres vindo!
-Tenho que agradecer á tua prima o facto de me ter desafiado, gostei imenso de estar contigo.
-Eu também, xau!
A Margarida e a Patrícia foram para casa, e como sempre lá se foram sentar na varanda a conversar. A Margarida contou á prima tudo o que tinham conversado durante a noite e a ideia com que ficou do Miguel:
-O que achaste dele Margarida?
-Achei-o tímido, mas ao mesmo tempo, quando começa a falar é divertido, sabe manter um nível de conversa, diz as coisas no momento certo em que as deve dizer.
-Ele disse-te alguma coisa por causa da cena que o Filipe fez?
-Perguntou-me o que é que se passava, claro que eu não entrei em pormenores, nem lhe contei nada daquilo que o Filipe disse dele. Disse-lhe que o Filipe era um dos meus melhores amigos, mas que sentia por mim algo diferente do que eu sentia por ele, e que estava chateado por eu o querer conhecer.
-E ele?
-Disse que sabia separar as coisas, que ele também não gostava muito do Filipe, mas o Filipe é o Filipe e eu sou eu!
-Parece que daí está tudo resolvido, e quanto a vocês os dois?
-Não há nós os dois, pelo menos por enquanto, quando nos despedimos hoje não houve promessas nem combinamos nada, o que tiver de acontecer acontece.
-Para quem andava tão ansiosa, … mudaste de ideia foi?
-Não, não mudei nada, simplesmente queria dar o primeiro passo, e o primeiro passo consistia em estar com ele sem ser ao telefone, a partir de agora vou deixar que as coisas aconteçam naturalmente, se ele estiver interessado em me conhecer melhor, então ele vem ter comigo.
-Estás confiante?
-Estou, acho que consegui de alguma forma cativa-lo com a minha maneira de ser.
-Eu achei-o tímido demais para ser ele a continuar a avançar, não sei se ele vai ter coragem.
-Então que a vá arranjar onde quiser, porque da minha parte ele não vai levar mais nada, fiz o mais difícil, agora que o caminho está aberto, terá ele que arranjar forma de continuar a investir.
-E se ele não continuar a investir?
-Vou continuar a minha vida, se não estiver no nosso destino alguma vez os nossos caminhos se cruzarem, então também não vale a pena insistir, para no final alguém sair magoado, isso não.
-Vamos mas é dormir, eu estou a ficar com sono. – Disse a Patrícia bocejando.