quinta-feira, 19 de maio de 2011

Capitulo V

CAPITULO V

-Parabéns!
Esta era a palavra que mais se ouvia no ar nesse dia, a margarida e alguns colegas de curso tinham acabado de se formar. Agora ia começar a serio, os concursos, as desilusões por não ter entrado, tanta coisa que ainda tinha que passar, arranjar emprego alternativo, enfim, ainda não sabia bem o que ia fazer, mas esse dia era para comemorar, os pais e a família mais chegada estavam ali, do lado dela, felizes.
Passaram dois anos de muita luta interior para voltar a sair com alguém e sempre que o fazia, ele estava lá presente, era impossível não comparar, nunca mais ninguém a beijara como o Miguel a beijava, a saudade era um tormento no dia-a-dia, nunca deixou que mais ninguém entrasse na sua intimidade, não conseguia, o Miguel continuava muito presente na sua vida, nunca mais se falaram, pouco sabia dele, o que sabia era o que o pai por vezes deixava escapar, sabia que ele nunca mais tinha saído com ninguém, … Mas hoje não, hoje era um dia especial, não podia estraga-lo a pensar no Miguel, ia deixar a sua magoa para a noite quando os seus pais fossem embora e ela finalmente estivesse sozinha. Ao longo do dia em todos os lugares que estava, ela teve a sensação que se, se virasse para o lado ia dar de caras com o Miguel, uma sensação tão estranha, aquele formigueiro tão familiar, mas por mais que olhasse em volta ele não estava lá, claro, ele estava a setenta quilómetros de distância de Coimbra, não passava da sua imaginação a pregar-lhe alguma rasteira. A noite chegou, e com ela a eminente partida dos pais e do resto dos familiares.
Não regressaria nos dias mais próximos para a sua terra, queria despedir-se como deve ser dos colegas de curso, queria despedir-se dos anos maravilhosos que passou em Coimbra, e isso, teria que ser com calma, aquele apartamento que dizia tanto da sua vida, que tinha sido o seu ninho de amor com o Miguel, tudo isso levava tempo a deixar. A Mariana e o Zé há já dois anos que não viviam com a Margarida, tinham sido colocados em hospitais perto da terra delas.
Finalmente os pais da Margarida foram embora, ela subiu ao apartamento, estava a precisar de um duche urgentemente, afinal tinha sido um dia de muito calor, e o fato académico não ajudava muito nesse sentido porque era um pouco quente. Estava a entrar para o duche quando ouviu a campainha:
-Bem eu não acredito, de que se terão esquecido os meus pais, só podem ser eles!
Vestiu um roupão de verão, que mal cobria as suas pernas bem torneadas, e foi abrir a porta. Como estava a contar de ver o pai ou a mãe nem se incomodou em perguntar quem era, abriu rapidamente a porta a dizer:
-De que se esqueceram desta vez?...
Parou de repente, á sua frente estava o Miguel com um grande ramo de rosas vermelhas, olhava para a Margarida com aquela adoração que lhe era típica, nada se tinha perdido entre eles.
-Miguel!
-Doutora Margarida!
-Nada disso, Margarida sempre!
-Parabéns!
-Obrigado! Que fazes aqui?
-Tinha que te ver, precisava ver-te, precisava estar um pouco contigo!
-Entra, eu ia tomar um duche, estou toda transpirada, se me deres licença eu vou lá rapidinho, senta-te e fica á vontade.
Não queria acreditar, ele estava ali? Na sua sala, entrou no duche, não conseguia nem pensar, era muito estranho ao fim de dois anos, quase três, que o Miguel ali estivesse novamente. Limpou-se e como era seu hábito vestiu umas velhas calças de fato de treino e uma t-shirt sem mangas de andar por casa. Dirigiu-se á sala onde o Miguel estava sentado á sua espera.
-Desculpa se tomei liberdade a mais, mas fui pôr as rosas na água!
-Não há problema nenhum, a casa é a mesma, nada mudou!
-Que vai fazer agora?
-Agora? Neste momento?
-Não, agora que terminaste o curso, vais manter-te aqui em Coimbra?
-Não, vou ficar mais uns dias para me despedir dos meus colegas de curso, deixar a casa como deve ser, enfim, tudo com muita calma, afinal foram muitos anos aqui. Depois sim, vou para casa, tenho que concorrer para dar aulas, mas se não conseguir, tenho que arranjar um trabalho, não vou ficar em casa a viver á custa dos meus pais, já não consigo, tornei-me muito independente. E tu? Como estás?
-Sempre na mesma, continuo a trabalhar junto do teu pai, não me casei, ainda vivo em casa dos meus pais, enfim, sempre a mesma rotina. E tu tens alguém na tua vida?
-Não, acabei o meu curso, isso sim foi o mais importante, agora o que acontecer, se verá.
-Tenho tantas saudades tuas linda!
-Eu também tenho muitas saudades tuas, mas…
Já não conseguiu acabar a frase, o Miguel agarrou nela e beijou-a, ao inicio muito timidamente, mas depois com uma necessidade enorme de apagar os anos que estiveram separados. A Margarida correspondeu, também para ela o que estava a acontecer era um sonho tornado realidade. As mãos do Miguel exploraram habilmente cada centímetro daquela pele macia, estava difícil de parar, mas a Margarida também não dava sinais de querer parar, sem conseguir deixar de olha-la nos olhos, pegou-lhe ao colo e levou-a para o quarto onde a depositou em cima da cama lentamente, beijou-a e começou um jogo de mãos, sentiam-se dois exploradores querendo descobrir cada vez mais um do outro, os recantos um dia esquecidos eram agora avivados cada vez com mais nitidez. Despiram-se e sentiram nas mãos a urgência a queimar a pele em cada carícia, quanto tempo desperdiçado que tinham de recuperar e o Miguel não ia desistir, a Margarida tinha de casar com ele. Amaram-se, primeiro com urgência, e mais tarde com toda a calma, como se tivessem todo o tempo do mundo, como se as horas parassem, como se eles fossem os dois únicos seres do planeta. Não falaram, as palavras eram supérfluas. Dormiram algumas horas, outras perdiam-nas a fazer amor, redescobriram-se, do futuro ainda não tinham falado, mas tinham tempo para isso. Adormeceram quase de manha, e dormiram até muito tarde. Quando acordaram o Miguel propôs-lhe irem até á Figueira comer qualquer coisa, tomaram duche juntos, voltaram a fazer amor, sentiram-se mais ligados que nunca, mas ainda nenhum tinha puxado o assunto, parecia que queriam prender aquele momento para sempre.
Saíram de casa e foram rumo á Figueira, pelo caminho falaram de coisas banais. Quando chegaram foram comer qualquer coisa a um café e depois foram os dois dar uma volta junto ao mar, esse sempre tinha sido o seu programa preferido, deram as mãos como nos velhos tempos, parecia que nada tinha mudado, pareciam dois namorados que nunca se tinham separado. Ao longe o seu silêncio, era interrompido pelo grito das gaivotas.
-Parece que nada mudou, nem parece que dois anos nos separaram! – Disse o Miguel – a única diferença é que agora és doutora e há dois anos atrás não eras.
-Miguel não voltes a dizer isso, eu sou e sempre serei a Margarida, não quero saber do Doutora ou não, eu não deixei de ser quem era por ter acabado um curso!
-Que pensas fazer em relação a nós?
-Acho que nos devemos sentar e conversar, como dois adultos que somos, como duas pessoas maduras que finalmente podem tomar uma decisão.
-Claro, é isso que eu quero! Nunca deixei de gostar de ti, mas entendi que tu querias ter espaço na tua vida e eu não te estava a deixar viver. Naquele dia que me deixaste, acho que te odiei, achava que merecia uma nova oportunidade, mas depois pensei, pensei muito, e cheguei á conclusão que se me amavas, precisavas daquele tempo e que por fim voltarias para mim.
-Não te cansaste de esperar?
-Não, tinha de esperar por o dia de ontem, sabia que nessa altura já estarias mais livre, sabia que estarias mais mulher, passei o dia todo a observar-te ao longe para ver se tinhas alguém ao teu lado, mas como te vi sempre sozinha, deduzi que o meu lugar não tinha sido ocupado.
-Nunca foi, não foi por falta de quererem, mas eu nunca quis, ainda não estava preparada para te dizer adeus para sempre, continuava a sentir que a minha alma e o meu corpo te pertenciam e eu sentir-me-ia uma traidora!
-Que vamos fazer?
Ambos se sentaram na areia frente ao mar…
-Pretendes arriscar? – Perguntou o Miguel.
-A vida já por si é um risco muito grande, o que arriscamos dentro dela faz parte disso.
-O que queres dizer com isso?
-Miguel, eu não posso ser hipócrita a ponto de te dizer que sou capaz de viver a minha vida sem te ter do meu lado! Eu amo-te, nunca deixei de te amar durante este tempo, portanto, sim, vou arriscar contigo!
-Casa-te comigo!
-Sim, eu caso contigo, amo-te demais, e acho que já perdemos muito tempo na nossa vida.
Acabaram por passar alguns dias em Coimbra, a Margarida não se despediu de ninguém como era o seu propósito, passou todo o tempo com o Miguel, arrumaram a casa, empacotaram tudo dela em caixas e por fim rumaram, uns dias de férias, para o Algarve, durante esse tempo pareciam um autêntico casal em lua-de-mel, os pais dela sabiam que tinha ido para o Algarve, mas pensavam que ela tinha ido com as amigas.
Quando regressaram, a Margarida e o Miguel contaram aos pais que tinham voltado a namorar e que desta vez queriam marcar o casamento, claro que a mãe da Margarida não ficou muito satisfeita:
-Mas um casamento assim? Para quando estão a pensar?
-Para Maio, mãe!
-Maio? Não pode ser, estamos em Agosto, eu não tenho tempo para preparar o casamento assim com tão pouco tempo de antecedência, porquê tanta pressa? Estás grávida Margarida?
-Mãe, se eu estivesse grávida, em Maio além do casamento fazias também o baptizado do teu neto, claro que não estou grávida. Simplesmente queremos casar.
-Se tu fores colocada? Como vai ser?
-Mãe, se eu for colocada, vou trabalhar, não entendo o motivo porque estás a pôr tantos entraves. Vou casar em Maio, tens quase um ano para preparar o casamento.
E assim foi, de Setembro a Maio foi uma azáfama com todos os preparativos, a Margarida folheava revistas de vestidos de noiva, ia tirando ideias para o seu, claro que no final foi um pouco infrutífero, pois a sua mãe já tinha uma ideia muito clara de como queria a filha vestida e quase todas as ideias que a Margarida tinha, foram ficando para trás, foram sendo trocadas pelas ideias da mãe. Chegou a um ponto em que a Margarida preferiu ficar calada e deixar que a mãe desse as ordens, o vestido não estava nada ao gosto dela, mas… que podia ela fazer. Esta calma só foi quebrada por duas coisas, a primeira foi a exigência que a Margarida fez que o seu vestido tinha de ter uma cauda enorme, claro que a mãe disse logo que estava fora de questão, mas desta vez não conseguiu demover a filha e o vestido teve a cauda que a Margarida queria, a outra, foi o véu, a mãe queria véu, a Margarida não, mas desta vez ninguém demoveu a mãe, e que remédio teve a Margarida senão levar o tão famoso véu que a mãe queria, enfim, era só uma vez na vida que se iria casar portanto… deixou que as coisas acontecessem.
O tempo ia passando, a Margarida como não foi colocada dava explicações em casa, pelo menos assim ia ganhando algum dinheiro, e não sentia que os seus anos de estudo tinham sido em vão.
Em Janeiro o Miguel e a Margarida começaram a ver de uma casa para viverem, teriam que alugar uma, e mais tarde então construir a casa que queriam, mas um certo dia a mãe da Margarida decidiu falar com o Miguel:
-Eu estive a falar com o meu marido, e achamos que era melhor arranjarmos o andar de baixo da nossa casa, e vocês ficavam no andar de cima, está arranjado, assim não tem de pagar o aluguer de uma casa.
-Não sei, tenho que falar com a Margarida primeiro, tenho de saber a opinião dela.
-Claro que ela não se vai importar, mas se queres falar com ela fala. Eu acho que era a solução para todos.
-Pois não sei, vou falar com ela.
Mais tarde quando se encontraram o Miguel falou com a Margarida e contou-lhe o que mãe dela tinha dito:
-Amor, a tua mãe hoje veio ter comigo, com uma ideia, que segundo ela, era a ideal para nós.
-Que ideia?
-Ela disse que já tinha falado com o teu pai, e que iam arranjar o andar de baixo da casa para eles e que nós podíamos ficar no andar de cima.
-Hum, não sei, sempre ouvi dizer que quem faz o casamento faz o apartamento, sinceramente não sei se é boa ideia.
-Eu acho que devíamos aceitar, não sei, como és filha única, sempre estavas ali ao pé dos teus pais.
-Olha Miguel se achas que é isso que queres, então ficamos lá, eu acho que não é boa ideia, mas se tu queres, então diz-lhe lá que sim.
-Margarida, se queres ir para outra casa, vamos, eu só não quero que ninguém fique zangado.
-Ninguém tem nada que ficar zangado, é a nossa vida, mas… se queres arriscar, arriscamos
E assim ficou decidido que eles iam ficar a viver no andar de cima de casa dos pais da Margarida, embora esta não se mostrasse muito contente com a ideia.
Os meses passaram a correr e quanto mais se aproximava o dia do casamento mais os nervos iam aumentando, a Margarida e o Miguel discutiam por tudo e por nada. Claro que já tinham começado os desentendimentos com a família do Miguel, mas a Margarida tentava superar tudo isso, não lhe dizendo nada.
Finalmente chegou o primeiro sábado de Maio, o dia amanheceu, lá fora o dia despertava para a vida, flores de mil cores irrompiam pelos campos verdejantes que ainda se conseguem ver nesta vila, os pássaros cantavam alegremente nos ramos das árvores, o sol começava a tingir de laranja o azul do céu. Eram seis da manha, quando a Margarida se levantou para ir à cabeleireira, o casamento estava marcado para as 13 horas mas ainda havia muita coisa para fazer:
-Estás bem-disposta Margarida? – Perguntou a Cabeleireira.
-Sim, muito bem, porquê?
-Não queres um calmante?
-Um calmante? Não! Era suposto eu querer um calmante?
-Todas as noivas ficam muito nervosas, eu tenho sempre aqui comigo calmantes para esse efeito.
-Mas eu não preciso, estou ciente do que vou fazer, portanto, não estou nada nervosa!
-És a primeira noiva que me aparece que não está nervosa!
-Eu não estou mesmo nervosa, já passei por muita coisa para chegar aqui, portanto, o meu casamento foi uma decisão muito bem ponderada.
Eram quase onze horas quando a Margarida chegou a casa, estava na altura de vestir o seu vestido, era o seu dia, nesse dia tinha direito a sentir-se uma princesa, tinha direito a pensar só na felicidade. Já estava quase vestida quando o telefone tocou, alguém atendeu, a Margarida não sabia quem, afinal estava toda a gente de volta dela, nesse dia privacidade era algo que ela não iria conhecer, alguém a chamou:
-Margarida!
-Sim?
-Podes vir ao telefone?
-Quem é?
-O teu noivo.
-Não era suposto ele não falar comigo antes do casamento? – Perguntou a Margarida, embora já se tivesse precipitado a atender o telefone – Miguel, e as regras para sermos felizes? Não sabes que não podes falar comigo antes do casamento?
-Falar posso, não te posso ver, mas estou ansioso para isso, finalmente, vais ser minha mulher, este é o dia mais feliz da minha vida!
-O meu também! Vou acabar de me vestir e arranjar, ainda tenho as fotografias para tirar. Beijo, amo-te!
-Eu também te amo, beijo!
O resto do dia, foi um emaranhado de situações, de emoções que só mais tarde a Margarida conseguiu recordar. Tiraram fotografias e mais fotografias, deram beijos e mais beijos, e quando chegou ao fim do dia, estava completamente cansada, só lhe apetecia tomar um bom banho, e dormir, dormir, dormir!
Eram mais ou menos dezanove horas quando finalmente puderam sair, e se dirigiram para casa para tomar banho e mudar de roupa. Como manda a tradição, o Miguel pegou na Margarida ao colo, e levou-a para dentro de casa. No quarto colocou-a em cima da cama e beijou-a, primeiro suavemente e depois com mais urgência, as mãos dele começaram a explorar a pele dela que estava exposta, levantou-a um pouco e começou lentamente a desapertar cada botão do vestido (e olhem que não eram poucos, cerca de cem botões pequeninos), era um jogo de sedução lento, vagaroso, olhavam-se, beijavam-se, aos poucos a roupa foi caindo ao chão, amaram-se pela primeira vez como marido e mulher. Depois tomaram um banho bem demorado, mais uma vez exploraram-se mutuamente, e o banho tornou-se em mais um momento de imensa paixão. Adormeceram bem tarde, conversaram, brincaram, amaram-se vezes sem conta nessa noite, até que o sono conseguiu vence-los. Na manha seguinte, melhor dizendo, na tarde seguinte, quando acordaram, olharam-se, os seus lábios tocaram-se, era tudo paixão, havia promessas no olhar de ambos, havia sonhos que pretendiam realizar, mas será que aqui começaria a eterna lua-de-mel da Margarida? Era uma dúvida que a atormentava, no fundo eles eram tão diferentes, o que o destino lhes reservaria só o tempo o diria.

3 comentários:

  1. Bem mas que história... apesar de não ter nada a ver, fizeste-me lembrar os meus bons tempos de estudante. Morei num apartamento com mais 3 pessoas e ainda hoje sinto saudades, vida de estudante é boa mas boa. Ao contrário de ti assisti a uma história de amor de uma colega de casa e fui ao casamento :) as coisas que já me fizeste recordar. Ainda hoje sempre que vou à cidade onde estudei é inevitável passar pela minha casa. Continua lá a história que escreves bem.

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  2. Margarida,
    Eu também quero mais... Por favor maninha : )

    Beijinhos

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