terça-feira, 10 de maio de 2011

CAPITULO IV

Os meses foram passando, a Margarida continuava a estudar, estava-se a aproximar a primeira época de exames, e por vezes não lhe dava muito jeito que o Miguel andasse sempre junto dela, pois precisava de estudar ate mais tarde, ou mesmo fazer algumas directas, afinal isso é o mais típico da vida académica, brinca-se durante o ano e depois quando as frequências apertam aí é que todos se lembram de gastar quilos e quilos de café para não dormirem noites e noites seguidas, e depois quando chegava o dia D, eram brancas atrás de brancas, a Margarida nem isso teve tempo de experimentar, porque como o Miguel estava sempre junto dela, ela tinha que manter o seu trabalho actualizado, as frequências correram-lhe muito bem e estava com esperança de ter boas notas. Os pais como ela não se baldava às aulas nem se metia em confusões, deixaram de se preocupar com o namoro dos dois, claro que eles não sabiam nem desconfiavam que a filha praticamente vivia com o Miguel.
Assim se passou o primeiro ano de faculdade da Margarida, sempre com o Miguel por perto, as noites eram passadas juntos no apartamento que entretanto ela e a prima Mariana tinham pedido aos pais para alugarem, dava jeito às duas, uma vez que a Mariana também tinha começado a namorar com Zé, e queriam ter a sua privacidade, entre os quatro havia-se formado uma grande amizade, o Zé simpatizava com o Miguel e vice-versa, claro que pela cabeça dos pais das duas nem sequer passava a ideia delas estarem todos os dias com os namorados, as coisas eram mantidas em silencio por elas. Sempre que os pais delas de disponibilizavam a ir vê-las, os namorados eram informados e nesse dia não iam. E assim as coisas se mantiveram quase dois anos.
A Mariana estava quase a terminar o curso de enfermagem, quando em Junho descobriu que estava grávida, entrou em pânico, claro, numa terra pequena como elas viviam as pessoas iam-se fartar de falar, e o pior era que os pais dela, tal como os da Margarida, eram pessoas conhecidas e respeitadas, e a filha estar grávida ia ser um desapontamento para eles, a Mariana não sabia o que havia de fazer:
-Margarida, o que é que eu faço? O Zé quer ter o bebe, mas e os meus pais? Como lhes vou dizer?
-Mariana, eu acho que tu tens á vontade suficiente com a tua mãe para lhe contares o que se está a passar, fala com ela, ela depois fala com o teu pai.
-Ai, não sei, não sei o que vou fazer, eu tenho tanto medo, e se tenho que me casar e deixar os meus estudos, logo agora que eu estou a acabar…
-Calma, tudo se vai resolver, eu se fosse a ti falava com a tua mãe, era o que eu fazia se fosse comigo, mesmo sabendo que corria o risco de estar a ouvir os meus pais a vida toda, mas o que está feito, feito está.
-Não sei, o Zé anda todo feliz da vida, mas eu… eu não me consigo alegrar.
-Vão os dois passar o fim-de-semana a tua casa e quando vires que o ambiente é propício fala com alguém, não perdes nada por isso.
Claro que o pai da Mariana não ficou muito contente com a situação, mas nesse momento já não havia nada a fazer, a Mariana ia casar-se em Setembro, continuaria a estudar, não tinha lógica deixar o curso quando só lhe faltavam alguns meses para terminar, uma vez que a ultima parte já seria o estágio, e o bebe já teria nascido.
O mês de Julho passou e depressa chegou Agosto, quem este ano não estava muito contente era a Patrícia, e depressa o fez saber á Margarida:
-Olha Margarida, este ano não estou com muita vontade de ir aí passar férias, uma vez que tu já não tens tempo para estar connosco, só andas bem com o Miguel atrás de ti.
-Achas Patrícia?
-Não acho, tenho a certeza, há quanto tempo é que tu não sais com a Sónia e o resto do grupo?
-Também não tenho vindo muito para cá, sabes bem que eu fico muitos fins-de-semana em Coimbra.
-Não sei Margarida, não estou para ir apanhar uma seca, já chega bem ir quando os meus pais forem.
-Vá lá, não sejas chata, ainda por cima o Miguel nem sequer vai ter ferias agora em Agosto, portanto vou ficar o tempo todo sozinha, podemos fazer o que sempre fizemos.
-Olha, eu vou arriscar, mas se me arrepender vais ter que me ouvir.
Com a Patrícia em casa a Margarida passou a sair mais, a rotina delas era mais ou menos sempre a mesma, estavam com o grupo de amigos, iam para o rio, á noite saiam todos juntos e aí já o Miguel os acompanhava, estavam a ser umas férias perfeitas para a Margarida, aliado a tudo isto ela tinha passado para o segundo ano sem deixar nenhuma cadeira por fazer e até tinha notas boas o que deixava os pais muito contentes. Por esta altura eles já estavam conformados com o facto de ela namorar com o Miguel e até gostavam dele.
Faltava uma semana para o final de Agosto quando as coisas se complicaram para o lado da Margarida, estava ela sentada na esplanada do café que havia na praia fluvial com a Patrícia quando apareceram lá uns amigos desta de Lisboa que a margarida não conhecia, a Patrícia apresentou-os á prima e sentaram-se todos numa mesa, estavam a conversar calmamente, riam de vez em quando, uma vez que a Margarida era muito brincalhona, e um dos amigos da prima adorava contar anedotas, ali estiveram bastante tempo sem se aperceberem que o Miguel entretanto chegara e estava a observa-los. Quando a Margarida se voltou e os seus olhares se trocaram, os do Miguel pareciam gelo a olhar para ela, não lhe disse sequer uma palavra, e foi embora, para a Margarida a tarde divertida tinha acabado de uma forma que ela não sabia explicar. Não fez intenção de ir atrás do Miguel, jamais, ela não estava a fazer nada de mal, e ele se tinha chegado, só tinha mesmo era que ter ido ter com ela, será que ela não era dona da sua vida? Será que tinha que andar todo o tempo com medo de pensar que as coisas mais triviais pareciam não ser do agrado do Miguel? Que mais poderia ela fazer para ele andar bem? Fechar-se dentro de uma redoma dentro de casa para ninguém a ver? Não, nada disso, ela tinha uma vida a viver e o Miguel tinha que compreender isso.
Quando a Patrícia e a Margarida iam para casa desta ultima para tomar um duche, mudar de roupa e jantar, O Miguel passou por elas de carro, mas nem sequer parou, fingiu que não conhecia a Margarida, a Patrícia olhou para ela estupefacta e disse:
-Que bicho lhe mordeu? Não te viu?
-Viu, viu muito bem, assim como me viu na esplanada á pouco.
-Não o vi! Onde estava ele?
-Sentado no muro, nem sequer se dignou a ir ter connosco, e quando viu que eu olhei para ele, simplesmente levantou-se e foi-se embora.
-Sem te dizer nada?
-Sim, não me disse nada, eu também não fui atrás dele, Patrícia, eu não tenho que viver a minha vida com medo dele!
-Com medo dele? Ele bate-te?
-Não, nada disso, nunca me tocou com um dedo, mas parece que tudo o que eu faço está errado, parece que eu não me posso falar com ninguém, o simples facto de eu falar com um amigo, para ele já é considerado uma traição, assim eu não consigo continuar.
-Margarida, só continuas se quiseres, tens dezanove anos, quase vinte, tens uma vida pela frente, o Miguel não tem que obrigatoriamente ser o teu futuro, podes conhecer alguém melhor que ele.
-Mas eu adoro o Miguel, eu já não imagino a minha vida sem ele, no fundo acho que ele se impôs de tal maneira na minha vida que ele é o meu pequeno grande mundo.
-Margarida, foge enquanto é tempo, tu andas a anular-te em relação a ele, isso não pode ser. Tu tens tantas capacidades, tu tens tantos talentos, não deixes que ele te anule, luta pela tua vida.
-Vamos ver o que vai dar, eu sempre quero ver o que ele vai fazer, eu não estava a fazer nada de mal, portanto se ele quiser, ele é que tem de vir ter comigo!
-É isso mesmo, mostra-lhe quem és!
Quando chegaram a casa a mãe da Margarida estava com cara de zangada, olhou para elas e perguntou:
-De onde vêm?
-Do rio Madrinha – respondeu a Patrícia – porquê?
-O que andaste a fazer Margarida? – Insistiu a mãe desta.
-Olha mãe, será que podes ser mais directa? Eu detesto quando parece que tens medo de me perguntar as coisas directamente, que eu saiba nunca te escondi nada portanto não ia começar agora.
-Com quem estiveste no rio?
-Com a Patrícia!
-Mais?
-Ah não, - disse a Patrícia – isso é que não, já descobri o que se passa aqui. A Margarida esteve realmente comigo no rio, depois apareceram lá uns amigos meus de Lisboa, que estão aqui na zona a passar férias com os pais, nada de mais!
-O Miguel foi-se embora todo zangado e disse-me que ia pensar se cá voltava ou não.
-Então o Miguel veio com queixinhas, fez bem – disse a Margarida – se ele quiser voltar que volte, agora se ele pensa que eu vou andar atrás dele, está completamente enganado, não fiz nada de mal mãe, não fiz nada que me possa arrepender.
Claro que a Margarida disse isto tudo da boca para fora. O Miguel simplesmente desapareceu, a Margarida continuava a viver o dia-a-dia com a prima e as amigas, andava triste e deprimida, afinal ela gostava mesmo dele, mas… tinha que ser forte, ela não tinha feito nada de mal, não ia andar a correr atrás do menino e a fazer tudo o que ele queria, ele se gostasse mesmo dela voltava, ou então vinha falar com ela e dizer-lhe que estava tudo acabado.
O mês de Agosto chegou ao fim e aproximava-se o dia do casamento da Mariana, a Margarida andava tão entusiasmada com a Patrícia a escolher a roupa do casamento que nem parecia a mesma, estava mais solta, mais livre, voltava a ser a mesma Margarida que toda a gente conhecia, no Miguel já quase nada falava, pensava muito nele, muitas vezes a dor era demasiado forte, queria tê-lo ali do seu lado, ele tinha feito a sua escolha e a ela restava-lhe aceitar a escolha dele e andar com a sua vida para a frente.
O casamento da Mariana foi lindo, um casamento muito simples mas muito bonito mesmo! A Margarida e a Patrícia divertiram-se muito, tinham vindo alguns amigos da Mariana e do Zé que elas já conheciam, e juntaram-se todos, riram, dançaram, brincaram, e assim se passou o dia, pelo pensamento da Margarida nem uma única vez passou a lembrança do Miguel.
O mês de Setembro chegou ao fim e mais uma vez a Margarida regressou a Coimbra, já se tinha passado um mês e o Miguel nunca mais lhe dissera nada, ele era já um passado, uma página guardada no diário da sua vida. Arrumou as coisas que ele ao longo do ano lhe tinha dado, do seu dedo retirou a pequena aliança de compromisso que ele lhe havia dado, ao inicio sentiu-se despedida, quase nua na sua alma, era uma falha muito grande, mas tinha que se habituar e pensar que qualquer dia apareceria a pessoa certa, por agora só queria pensar nos seus estudos e na sua vida futura.
Por seu lado o Miguel não tinha um único dia que não pensasse na Margarida, não devia ter saído assim da vida dela, devia ter voltado atrás, devia ao menos tê-la confrontado com a verdade, devia ter aparecido nesse dia á noite, ou pelo menos no dia a seguir, deviam ter conversado, ter chegado a um acordo, … e agora será que já era tarde demais? Sabia pelo pai da Margarida que ela já tinha voltado para Coimbra, será que devia ir lá ter com ela? Não sabia o que pensar, não sabia sequer se ela lhe iria dar alguma hipótese, mas estava no direito dela. Ele e os seus ciúmes infundados tinham estragado tudo!
Enquanto o Miguel se atormentava, Outubro transformou-se em Novembro, que por sua vez deu a vez a Dezembro, a Margarida continuava a sua vida em Coimbra, era uma pessoa completamente diferente, os colegas mal a reconheciam, saía com eles, faziam noitadas, assistia a concertos, ia ao cinema, era uma Margarida completamente diferente da tímida Margarida do primeiro ano, os colegas descobriram que ela era divertida e adorava fazer rir. Não vinha muitas vezes a casa, passava a maior parte do tempo em Coimbra.
Na semana antes do Natal regressou a casa, embora estivesse muito frio, a Sónia conseguiu desafia-la para sair um dia á noite para beberem um café e conversar um bocado, a Margarida aceitou e depois do jantar lá se vestiu e foi ter com a amiga. Quando a ela chegou a Sónia já estava á espera.
-Olá, desculpa se me atrasei. – Disse a Margarida
-Nada disso, acabei de chegar agora, tanto que ainda nem pedi o café nem nada.
-Então, continuas satisfeita com o teu trabalho?
-Claro que continuo, gosto do que faço, e não sei se já viste, mas tenho muita sorte, afinal estou dentro de casa, e não tenho que me preocupar com muitas coisas.
-Lá nisso tens razão!
-E tu? Como é que te sentes agora?
-Bem, muito bem mesmo, há muito tempo que eu não me sentia tão livre, tão eu, não sei se entendes.
-Claro que entendo, finalmente reconheço a antiga rapariga que tu eras. Ainda gostas dele?
-Gosto, gosto muito dele, ele marcou-me em muitas coisas, mas olha, só me resta tirar desta relação duas coisas: do que foi bom, restam as lembranças e os bons momentos que partilhamos, do que foi mau, só me resta aprender com os meus erros e deles tirar lições para relacionamentos futuros.
-Quer dizer, já não há nenhuma hipótese de volta?
-Eu penso que não, ele deixou-me sem uma única palavra, foi á minha mãe que ele foi dizer que ia pensar se continuava comigo ou não, a mim nunca me disse nada. Já lá vão quatro meses, acho que foi mesmo definitivo.
-Em certas coisas o Filipe tinha razão!
-Eu sei, mas eu não podia deixar de viver a minha vida pelo Filipe, eu sabia o risco que estava a correr, se ficasse com o Miguel, e quando te falo aqui em risco quero dizer que sabia que a minha amizade com o Filipe ia ficar para sempre estragada, e o tempo e o afastamento ditou isso.
-Ele vai-se casar!
-O Filipe?
-Sim, com a Vera, sabes?
-Sim, sei, ainda bem, fico contente por ele, se calhar se isto não se tivesse passado ele não tinha descoberto a Vera, fico contente por ele, e desejo acima de tudo que eles sejam muito felizes.
De repente a Margarida cala-se, sente um olhar intenso sobre ela, uma sensação que ela não sabia que ainda existia na sua vida, ela sabia sempre quando o Miguel olhava para ela, ou quando estava a ser observada por ele, sentia um formigueiro no corpo, era como se uma força que os unia os fizesse ter a percepção do outro. Olhou para o balcão e lá estava ele, lindo, não havia mudado nada.
-Margarida! – Chamou a Sónia – estás bem?
-Estou, sabes quem está ali?
-Não acredito, o Miguel?
-Acredita que é verdade, está ali.
-O que vais fazer?
-Nada, não vou mexer um dedo sequer, Sónia, quem deixou de falar comigo foi ele, ele nem nunca se preocupou em saber a minha versão da historia, não vou perder o meu tempo com quem não se preocupa comigo!
-Fazes bem amiga!
A Sónia e a Margarida continuaram a falar durante algum tempo. O Miguel nunca tirou os olhos da Margarida, mas esta nem um simples sorriso esboçou. Quando sentiu que já estava a perder as forças, perguntou á Sónia se queria ir embora, mas como ela ainda ia ficar mais um bocado, a Margarida despediu-se e foi para casa.
O Miguel viu-a sair, e deu tempo para ela se afastar um bocado, tinha que falar com ela, tinha que a ter de novo na sua vida, mas para isso tinha que lutar por o que tinha perdido, e tinha a certeza que não iria ser fácil, pagou e saiu.
O tempo tinha arrefecido e muito, a Margarida lá ia toda embrulhada no seu casaco, perdida nos seus pensamentos, não ouviu os passos que se aproximavam dela, sentiu uma mão, no seu ombro e assustou-se lançando um pequeno grito:
-Calma, Margarida, sou eu!
Oh Deus, aquela voz, não… como ia resistir, o que é que ele queria dela ao fim de tantos meses?
-Sshiu! Calma, eu não te faço mal, sou o Miguel, jamais te faria mal Margarida!
Margarida olha nos olhos dele, faz um gesto negativo com a cabeça e diz-lhe:
-Não me fazes mal Miguel? O que fizeste ao longo destes meses todos? Tu fazes ideia do mal que me fizeste?
-Desculpa, por favor desculpa-me, eu já me castiguei demais, tu não sabes as vezes que eu quis pegar no meu carro e vir ter contigo, tu não sabes as vezes que eu estive á porta de tua casa em Coimbra a apanhar coragem para falar contigo.
-E porque não falaste?
-Sempre que eu te via, tu estavas alegre, bem-disposta, tão diferente da Margarida que era ao meu lado, achei que se fosse falar contigo, tu me mandavas embora, estavas melhor sem mim!
-Só eu sei o que chorei! Cada dia que passava tu estavas cada vez mais entranhado no meu coração, claro que eu tentei de tudo para não cair em depressão, e agora que eu estou a melhorar, tu apareces! O que queres de mim?
-Primeiro, quero que me desculpes, do fundo do meu coração eu estou a ser sincero!
-Miguel, antes de continuarmos com isto, vamos fazer uma coisa,..
-Diz, eu faço tudo.
-É tarde, eu estou cansada, se quiseres encontramo-nos amanha e falamos, amanha tentamos arranjar uma solução, uma solução que seja boa para os dois. Pode ser assim?
-Pode, eu amanha á tarde não vou trabalhar, venho ter contigo depois de almoço. Está bem assim?
-Claro, pode ser assim, se quiseres passa por minha casa,…
-Eu ligo-te para combinarmos.
-Está bem! Até amanha Miguel.
Antes que a Margarida tivesse tempo de reagir, o Miguel puxou-lhe no braço e beijou-a.
-Boa noite Margarida!
Nessa noite mal dormiu, não sabia o que fazer á sua vida, continuava completamente apaixonada pelo Miguel, tê-lo de volta na sua vida era um sonho tornado realidade, mas ao mesmo tempo pensava no tormento que isso seria, se voltasse para ele, andaria de novo com a sensação de andar a pisar em cima de ovos, sempre com medo de partir algum. Estava mais dividida que nunca. Sabia que corria o risco, apesar de ainda ser muito nova, de não conseguir entregar-se a um novo amor, sem fazer comparações com o Miguel. Amanha era um novo dia, logo veria como resolver a situação, não valia a pena estar a amargurar-se durante a noite pois nesta altura tudo não passava de suposições, só quando estivessem frente a frente, só quando ouvisse a versão dele e o que ele quereria dela é que ponderaria qualquer decisão, não haveria acasos, teriam de ser firmes nas suas decisões, delas dependeriam o seu futuro. Margarida acabou por adormecer já a madrugada ia alta, os seus sonhos eram confusos, embora no meio dessa confusão estivesse sempre a certeza do seu amor pelo Miguel.
Depois do almoço o Miguel veio busca-la, haviam combinado assim quando ele lhe havia telefonado de manha.
Foram para um sítio sossegado, longe dos olhares de toda a gente, junto ao rio, sentaram-se, reinou o silêncio, só cortado pelo barulho da corrente do rio, ou por o coaxar de uma rã antes de se ouvir o splash ao saltar na agua.
-Margarida!
-Diz!
-Eu… não tenho desculpa para o que fiz, não sei porque o fiz, nem o que me levou a faze-lo, …
-Antes de continuares a falar, escuta-me. Miguel durante os quatro meses que tu me abandonaste, …(O Miguel olhou para ela surpreendido) – não olhes assim para mim, é verdade, tu abandonaste-me, tu nunca me disseste nada, simplesmente foste embora, abandonaste-me, e durante este tempo eu pensei muito, pensei em mim, pensei em ti, pensei em nós, mesmo já não sabendo se nós ainda existíamos, …
-Para mim nunca deixou de haver, olha - (mostrou-lhe o dedo onde ainda trazia a aliança) – tu tiraste a aliança, eu não, portanto eu sempre acreditei no nós.
-Acreditar não chega, é preciso querer, e muitas vezes eu me pergunto a mim mesma se tu queres, ou o que queres.
-Quero-te a ti!
-Mas não acreditas em mim!
-Acredito, só tenho ciúmes, muitos ciúmes de ti!
-Mas isso não é saudável, se os ciúmes nos prejudicam então temos de arranjar um meio-termo. Eu nunca te dei motivos para tu desconfiares de mim, eu sempre tentei agradar-te, eu lutei por o nosso namoro, tu limitaste a zangar-te sem motivos, e pior, viraste-me as costas sem nenhuma explicação, magoou-me demais.
-Eu sei, se eu pudesse voltar atrás no tempo não teria agido assim, teria feito tudo diferente, por favor dá-me mais uma oportunidade, deixa-me mostrar-te o quanto te amo.
-Não sei se deva, já não sei o que pensar, eu amo-te, amo-te muito, mas não quero que me magoes mais.
-Vamos começar de novo, ajuda-me a mudar!
-Ás vezes lembro-me das coisas que o Filipe me disse, sabes, ele disse-me que tu me havias de fazer sofrer muito, que eu iria sempre ficar com as migalhas do teu amor, que a tua família iria estar sempre em primeiro lugar, nessa parte eu não me queixo, sempre senti que tu não me trocas pela tua família, mas quanto á tua capacidade de me conseguires fazer feliz, aí eu já começo a pensar seriamente!
-Por favor, dá-me só mais uma oportunidade, se não der certo cada um segue o seu caminho, mas não custa nada tentar.
Miguel pega na mão da Margarida – Por favor, eu amo-te!
Olham-se nos olhos, aquele olhar que ela tão bem conhecia, estava tão dividida, não duvidava do amor dos dois, mas… não podia continuar, se cedesse mais uma vez perderia todo o respeito que ainda tinha por si, olhou o Miguel, precisava olha-lo mais uma vez, precisava reter aquele momento para sempre, sabia que muitos homens lhe poderiam aparecer na vida, mas nenhum nunca seria o Miguel.
-Não, não posso, desculpa!
Saiu a correr dali, fizera a coisa mais difícil da vida dela! As lágrimas teimaram em toldar-lhe os olhos, mas continuou em frente, se vacilasse, se olhasse para trás estaria perdida para sempre, ao longe ainda o ouvia a chama-la, queria correr para ele, mas… não… não…!

3 comentários:

  1. Isto promete, continua que estou entusiasmada com a minha leitura da noite :)

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  2. Margarida,
    Acho que a Guida não vai conseguir resistir ao charme do Miguel... E ele não vai mudar (acho eu). Bolas agora que estava na melhor parte acabou... Estou ansiosa pelo próximo capitulo, isto e' que e' um vicio hehhe.

    Beijinhos

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